A imagem que fica da rainha Elizabeth II para o mundo é a de uma mulher que parecia imortal. Brincava-se com a longevidade dela, que viu sete papas passarem pelo Vaticano, enfrentou duas guerras mundiais, empossou 15 primeiros-ministros e nos memes da internet era chamada de Betinha. Como figura pública, a rainha elegante, que vestiu toda a paleta de cores do arco-íris e seus meios-tons será para sempre lembrada com um vestido preto, de máscara, sentada sozinha durante o funeral do marido Philip para respeitar os protocolos da covid-19 que não lhe permitiam sequer abraçar os filhos e os netos.
Os políticos brasileiros pouco afeitos ao respeito dos protocolos teriam muito a aprender com Elizabeth, a começar pela serenidade e pelo respeito às regras do jogo. Viajou pelo mundo todo como chefe de Estado sem cometer gafes e recebeu presidentes e primeiros-ministros de todos os continentes. Ela não precisava renovar o mandato a cada quatro anos, mas se comportava com altivez e enfrentava as crises, que não foram poucas, sem perder o controle. Crises com os filhos, as noras, os netos.
Na Segunda Guerra, a jovem herdeira do trono britânico mandava pelas ondas do rádio mensagens de estímulos para os soldados no front. Em 70 anos de reinado ela soube cumprir seu papel de chefe de Estado sem se meter nas intrigas da política. Há dois anos, quando a pandemia de covid-19 aterrorizou o Reino Unido, gravou vídeos de apoio aos trabalhadores da saúde. E submeteu-se às regras que restringiram a liberdade dos súditos, privando-se do convívio com filhos e netos.
A imagem dela toda de preto e de máscara no funeral do príncipe Phillip, seu companheiro por sete décadas, separada da família, foi uma das mais marcantes da cerimônia. Se ela não respeitasse as regras definidas pelo governo do seu país, que exemplo daria? Mesmo com todos os cuidados reais, Elizabeth teve covid. Sobreviveu e, como se o roteirista do filme de sua vida estivesse particularmente inspirado, legou ao mundo uma última imagem emblemática, dois dias antes da morte. Na terça-feira (6), aos 96 anos, sorridente, a rainha deu posse à primeira-ministra Liz Truss, que provavelmente ganhou o nome de Elizabeth por causa dela.
Elizabeth viveu seu momento de maior impopularidade na morte da princesa Diana, a ex-nora amada pelo britânicos. A imagem de frieza dela no funeral da princesa, reforçada pelo filme The Queen, em que foi interpretada por Helen Mirren, foi se abrandando nos anos seguintes. A comemoração do jubileu acabou por apagar as marcas dos escândalos que abalaram a Família Real e a rainha sai do trono para a História nesta tarde de verão.