A rainha Elizabeth II, que morreu nesta quinta-feira (8), nem sempre foi a mais cotada para assumir o trono britânico. Nascida em 21 de abril de 1926, ela ocupava o terceiro lugar na linha de sucessão, estando atrás apenas de seu tio, Edward VIII, e de seu pai, George VI. Apesar disso, caso seu tio tivesse filhos, eles estariam à sua frente.
Outro ponto importante era que, se o pai de Elizabeth tivesse algum filho homem, este também teria prioridade, porque havia uma tradição de dar a preferência para o primogênito do sexo masculino na sucessão.
Em 1936, a então jovem Elizabeth se tornou oficialmente a herdeira da coroa quando seu pai assumiu o trono após a abdicação de seu tio, que renunciou ao cargo para casar com a americana Wallis Simpson. Em fevereiro de 1952, já casada, Elizabeth estava no Quênia, em substituição ao pai doente, durante uma viagem oficial pela Commonwealth (Comunidade das Nações, que faziam parte do império britânico), quando foi informada sobre a morte precoce do rei. Assim, virou rainha com apenas 25 anos.
Após o período de luto, foi oficialmente coroada em junho de 1953. A cerimônia, na Abadia de Westminster, distrito em Londres, na Inglaterra, foi a primeira a ser transmitida ao vivo no rádio e na televisão.
Casamento longevo
É impossível falar do reinado de Elizabeth II sem mencionar seu grande parceiro de vida. Nascido na Grécia em 1921, Philip pertencia à realeza grega e dinamarquesa. Era tataraneto da rainha Victoria, assim como a própria Elizabeth II, e filho da princesa Alice de Battenberg e do príncipe Andrew da Grécia. A família foi exilada quando ocorreu a proclamação da república helênica, e o tio de Philip, o então rei Constantino I, foi forçado a abdicar do trono.
Eles se estabeleceram nos arredores de Paris, porém, Alice foi diagnosticada com problemas psicológicos e internada em um sanatório, enquanto Andrew passou a frequentar cassinos e levar uma vida boêmia. Por isso, desde criança, Philip ficou sob o cuidado de parentes distantes que serviram de apoio enquanto ele estudou em colégios na França, na Alemanha e na Grã-Bretanha, até ser enviado para um internato escocês. Depois, ingressou na Marinha Real britânica – ele participou ativamente nos combates durante a Segunda Guerra Mundial.
Foi por volta dos 18 anos que Philip conheceu a rainha Elizabeth II, quando ela tinha apenas 13. Os dois se casaram em 20 de novembro de 1947, na Abadia de Westminster. O casal teve quatro filhos: Charles, Anne, Andrew e Edward.
Philip foi nomeado duque de Edimburgo e teve que renunciar aos seus títulos de nobreza anteriores e a sua religião ortodoxa, convertendo-se à Igreja Anglicana. Com a morte prematura do sogro, George VI, em 1952, e a coroação de Elizabeth II, ele abriu mão da Marinha e se tornou príncipe consorte.
Em uma rara homenagem pública ao marido, a rainha Elizabeth discursou sobre sua relação com Philip quando completaram 50 anos de casamento, em 1997.
— Ele tem, simplesmente, sido minha força e permanência todos esses anos — declarou a monarca.
Em novembro de 2017, por ocasião do aniversário de 70 anos de casamento, os sinos da Abadia de Westminster, onde ocorreu a cerimônia de matrimônio de Philip e Elizabeth, tocaram durante mais de três horas em homenagem ao casal real.
Ao longo de mais de sete décadas de casamento, o duque de Edimburgo serviu de braço direito de Elizabeth II em todas suas funções como soberana. Ele se tornou patrono de centenas de organizações e recebeu diferentes honrarias militares, além de acompanhá-la nas viagens.
Philip abandonou suas atividades oficiais em agosto de 2017, depois de ter participado em mais de 22 mil atos em sua trajetória. Ele seguia acompanhando a rainha esporadicamente em alguma aparição pública, até sua morte em 2021.
Mas, afinal, por que Philip nunca foi nomeado rei? A explicação data de algumas gerações anteriores, quando a rainha Anne assumiu o trono britânico, em 1702. Na época, como forma de "proteger" a linhagem, a família Windsor decidiu que, se um homem casa com a rainha, ele é impedido de receber o título de rei.
Pela lógica da monarquia, o rei é considerado acima da rainha em importância. Assim, Philip se tornaria a maior autoridade e não Elizabeth, que é a herdeira do trono. Como maneira de proteger a linhagem dos Windsor, ficou proibido o uso do título de rei para pessoas de fora dela.
Tradição nas roupas
Uma das marcas da passagem da rainha pela monarquia foi fazer questão de seguir à risca várias tradições de vestimenta. Ela usou, por exemplo, o mesmo tom rosa claro nas unhas desde 1989. Além disso, sua maquiagem devia ser sempre leve e com aparência natural, assim como qualquer penteado ou corte de cabelo.
Já quando o assunto é o guarda-roupas, a rainha Elizabeth dava preferência para uma paleta de cores que não a deixasse passar despercebida. De acordo com a sua nora Sophie, a duquesa de Wessex, as cores vivas eram justamente para que a monarca fosse facilmente reconhecida em eventos públicos com muitas pessoas.
Saias muito curtas e decotes profundos não são considerados boas opções para os membros da família real britânica, e a rainha nunca foi vista com trajes deste tipo. O ideal, de acordo com o protocolo, é que a barra da saia nunca esteja muito acima do joelho.
Outra regra, que foi flexibilizada, é a da obrigatoriedade do uso de chapéu em qualquer evento antes das 18h. Hoje, é mais comum que a tradição valha apenas para eventos mais formais, como casamentos. Depois desse horário, é costume que mulheres reais usem uma tiara ou coroa.
Por fim, a família real deve usar preto somente quando está de luto ou no Remembrance Day, feriado que relembra os sacrifícios dos membros das forças armadas em tempos de guerra. Em 1952, quando soube do falecimento do pai no Quênia, a rainha Elizabeth havia esquecido de incluir uma roupa preta em sua mala da viagem. Por esse motivo, teve que esperar no avião até que trouxessem peças na cor, pois não teria sido apropriado que ela fosse fotografada usando outro tom no momento.
Proximidade com a população
Em 1977, quando completou 25 anos no trono, a rainha reforçou seu compromisso com a população em um discurso no qual relembrou uma fala que havia feito ainda pelo rádio quando era princesa, nos anos 1950 e antes da morte do pai, quando prometeu "dedicar a vida" a servir o Reino Unido e o Commonwealth.
— Embora esse voto tenha sido feito nos meus dias de juventude (...), não retiro nenhuma palavra do que eu disse — frisou.
Biógrafos apontam que Elizabeth, ao longo das décadas, quebrou alguns protocolos então existentes na monarquia. Um dos mais comentados foi a caminhada entre a população, o que a monarca fez pela primeira vez em 1970 em uma visita à Austrália. Até então, nas visitas oficiais, os membros da família real somente acenavam de veículos ou a uma distância segura das multidões. Desde então, o gesto passou a ser seguido por outros monarcas em visitas no exterior e eventos internos no Reino Unido.
Elizabeth também será lembrada na história por estar à frente da coroa britânica durante a pandemia da covid-19. O fato foi considerado, inclusive por ela própria, como um dos maiores desafios do Reino Unido desde a Segunda Guerra Mundial.
— Isso me faz lembrar da primeira transmissão que eu fiz, em 1940, ajudada por minha irmã — disse ela em um raro pronunciamento na televisão. — Embora tenhamos enfrentado desafios antes, este é diferente. Desta vez, nos unimos a todas as nações do mundo em um esforço comum.