Quem no Rio Grande do Sul entrou para o União Brasil (UB) imaginando que teria dinheiro de sobra para financiar a campanha descobriu às vésperas da eleição que o “noivo rico” tem outras prioridades. O partido é o mais rico do Brasil, com R$ 776,5 milhões, mas só uma pequena fatia dessa bolada chegou para os candidatos a deputado estadual e federal. Nos bastidores, corre até a ameaça de renúncia por parte de candidatos que estão se endividando ou colocando dinheiro do bolso na campanha, sem que isso estivesse no orçamento.
O ex-prefeito José Fortunati, que concorre a deputado federal, esperava receber R$ 1,5 milhão. Depois, a expectativa baixou para R$ 1 milhão, mas até agora recebeu apenas R$ 380 mil do fundão e não tem esperança de receber mais. Fortunati diz que está com a campanha praticamente parada e reclama da falta de estrutura na comparação com os deputados que têm mandato e concorrem à reeleição.
O presidente do UB no Estado, Luiz Carlos Busato, disse à coluna que nunca prometeu R$ 1,5 milhão para ninguém. Que a previsão inicial era de R$ 1 milhão e, depois, baixou para R$ 700 mil:
— O dinheiro está sendo repassado aos poucos. Fortunati e outros candidatos ainda vão receber mais um pouco.
Busato, que também é candidato a deputado federal, foi a São Paulo conversar com o vice-presidente — e guardião do dinheiro — Antônio Rueda para pedir mais recursos. Ouviu dele que a prioridade são os sete ou oito candidatos a governador que têm chance de chegar ao segundo turno e os senadores com perspectiva de vitória. É o caso de Antônio Carlos Magalhães Neto, favorito para conquistar o governo da Bahia, que já recebeu R$ 16 milhões do fundão — o teto de gasto no Estado é de R$ 17,7 milhões. Outro exemplo é o ex-juiz Sergio Moro, que disputa a vaga de senador pelo Paraná com Alvaro Dias (Podemos). Para Moro, o União Brasil repassou R$ 2,2 milhões. O ex-juiz completou com R$ 259 mil de recursos próprios.
O UB também está gastando milhões na campanha de Soraya Thronicke a presidente. Até agora, foram R$ 22 milhões, segundo a prestação parcial de contas no site do TSE. Rueda diz que também precisa guardar dinheiro para o segundo turno — não da eleição presidencial, já que nas pesquisas Soraya tem entre 1% e 2%, mas para os candidatos a governador.
Busato recebeu R$ 1,7 milhão do diretório nacional, mas diz que vai repassar parte desse valor para outros candidatos. Aposta do partido para a Câmara dos Deputados, o ex-jogador do Grêmio Douglas dos Santos declarou ter recebido R$ 380 mil até o momento.
O ex-deputado Enio Bacci também esperava mais. Até agora, só recebeu R$ 190 mil. Diz que gastou esse valor só em gráfica. Está protelando contas e puxando dinheiro do próprio bolso. Fala em dificuldade até para pagar a gasolina.
— Não imaginava que seria tão miserável. Todos imaginam que tenhamos muitos recursos, mas na prática alguns não recebem nada — desabafa.
Chama a atenção de outros concorrentes o fato de Rueda ter repassado R$ 550 mil à candidata Ana Cláudia (federal), que nem mesmo figura entre as apostas do partido, e que recebeu outros R$ 268,5 mil de Soraya Thronicke.
— A Ana Cláudia divide esse dinheiro com os candidatos que fazem dobradinha com ela — diz Busato.
À coluna, Ana Cláudia contestou a afirmação que não é uma das apostas do partido e disse que tem o apoio do setor de turismo e de eventos do Rio Grande do Sul na disputa a uma vaga na Câmara. A candidata concorreu a deputada federal pelo PMN em 2018, quando fez 7.342 votos e ficou na suplência.
A lei não especifica como os recursos do fundão devem ser divididos. Os partidos privilegiam os candidatos que têm mais chances de se eleger, mas o critério é subjetivo.
O problema não ocorre só no Rio Grande do Sul. Em Pernambuco, terra do presidente do União Brasil, que tenta se reeleger com uma votação expressiva para disputar a presidência da Câmara, o ex-ministro Mendonça Filho ameaçou ir à Justiça para receber os recursos a que tem direito como candidato a deputado federal. Oficialmente, Bivar recebeu R$ 2,3 milhões do partido, somando os repasses do diretório nacional e do estadual.
Procurada pela coluna, a direção nacional do União Brasil enviou a seguinte nota:
"O partido distribui seus recursos considerando a estratégia nacional de eleição de governador, senador e, sobretudo, de deputados. Parte dos recursos foi enviada para o diretório estadual, que fez seu próprio juízo de proporcionalidade".