Pelo que se depreende das manifestações da maioria dos candidatos ao Palácio Piratini e dos deputados estaduais, o projeto que autoriza o governo do Estado a repassar recursos para o Dnit investir em rodovias federais será rejeitado. O argumento que mais se ouve é de que as BRs 116 e 290 são federais e, portanto, o Estado que é pobre não pode “doar” dinheiro para a União, havendo tantas estradas estaduais precisando de reparo e duplicação. Chegou-se ao cúmulo de sugerir que o dinheiro fosse repassado ao consórcio vencedor da licitação para operar rodovias da Serra, como forma de reduzir o valor do pedágio.
Abstraindo-se a disputa eleitoral que impede uma discussão racional, é possível pensar para além do que está na superfície. O argumento de que as rodovias são de responsabilidade do governo federal é verdadeiro. Como quem está em Brasília tem outras prioridades, a duplicação da BR-116 não foi prioridade em todo o século passado, mesmo que tenha chegado ao 21 estrangulada. Só começou em 2012 e, por falta de recursos, ainda não foi concluída.
A obra avançou a passos de tartaruga, um pouco com orçamento do Dnit, um pouco com emendas parlamentares. De vez em quando, inaugura-se um trecho, mas não se pode ter certeza de quando será concluída. Quem perde com isso? Não, não é o governo federal. Da mesma forma as obras no trecho entre São Leopoldo e Scharlau, inferno para quem usa a BR-116 nos horários de pico (e que avançariam se o projeto fosse aprovado). Quem perde? Quem usa a estrada.
É fato incontestável que o Rio Grande do Sul tem rodovias de sua responsabilidade precisando de investimentos. Também é verdade que tem municípios sem acesso asfáltico. Por que não gasta nessas os R$ 500 milhões que estão parados no banco? Por que não tem obras contratadas. O Estado ficou tantos anos sem dinheiro para investir que não se preparou. Não tem projetos — e não se faz uma licitação para duplicação ou mesmo recuperação de uma rodovia num estalar de dedos.
A BR-290 é outra lenda. No governo de Dilma Rousseff foi licitado o trecho Eldorado do Sul-Pantano Grande, mas tudo o que se tem até hoje é um viaduto na entrada de Charqueadas, que resolveu o drama de quem precisava atravessar a rodovia, e esqueletos de obras ao longo do trecho. Entre eles, um pedaço de viaduto no Parque Eldorado, outro na entrada de Arroio dos Ratos. A ideia do governo era duplicar pelo menos um trecho crítico, entre Butiá e Minas e do Leão, mas nem isso. O destino de quem usa a BR-290 será esperar pela concessão, que fará a duplicação cobrando pedágio, ou seguir enfrentando o inferno das filas, os acidentes e os buracos.
O governo admite que perdeu a batalha da comunicação. Não soube vender seu peixe e passou a ideia de que estava fazendo uma doação para o governo federal. Santa Catarina, que serviu de inspiração, fez isso e os políticos não impediram. Já os gaúchos, que adoram usar Santa Catarina como exemplo de modernidade, votarão contra. Que essa derrota anunciada sirva, pelo menos, para quem for eleito saber que precisa investir em projetos para depois não dizer que não tem obra porque não se aprendeu a gastar.
ALIÁS
O Rio Grande do Sul cometeu um dos seus piores erros no governo de Antônio Britto, quando concedeu a BR-116 à iniciativa privada sem exigir a duplicação. Hoje se paga um dos pedágios mais caros do mundo e a duplicação é feita com recursos públicos.
Saída honrosa
Se o senador Lasier Martins (Pode) deseja continuar em Brasília a partir de 2023, seguirá o conselho de amigos, colegas de partido e líderes de siglas que desejam ter o Podemos como aliado e será candidato a deputado federal. Todas as pesquisas são desfavoráveis ao senador, que deseja tentar a reeleição. Para o Podemos, Lasier na Câmara é uma oportunidade de ampliar a bancada.
O senador ainda resiste, esperando por um milagre na disputa em que, pelas pesquisas, está em quarto lugar, com Ana Amélia Lemos (PSD) e Hamilton Mourão (Republicanos) distanciados na dianteira. Nesta eleição, só há uma cadeira em disputa.
O Podemos marcou a convenção para o dia 24 de julho, mas ainda não definiu com quem vai se aliar. A tendência é apoiar Eduardo Leite (PSDB).