Se no Rio Grande do Sul um político quiser popularidade fácil, basta vociferar contra os pedágios. Mesmo quem não usa as estradas vai bater palmas, porque o modelo adotado no governo de Antônio Britto, nos anos 1990, continha erros insanáveis que acabaram maculando a imagem das concessões. O que está acontecendo agora com o programa de concessões do governo do Estado e a pressão política para que o governador Ranolfo Vieira Júnior não homologue o resultado do leilão do bloco 3 (Serra e Vale do Caí) tem a ver com esse preconceito e com a proximidade da eleição.
Ranolfo, mesmo sendo pré-candidato a governador, não caiu no conto da popularidade fácil e está disposto a respeitar o resultado do leilão, se o consórcio vencedor apresentar todos os documentos necessários. Segundo o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, a homologação deve ocorrer até 15 de maio. O governador sabe que uma virada de mesa pode significar perda de credibilidade para o Rio Grande do Sul para outras concessões, mas o que mais lhe dá a certeza de que o contrato precisa ser assinado são as obras previstas.
–Não é possível nos conformarmos em ter na R-122 um trecho conhecido como curva da morte – diz o governador.
Se pudéssemos escolher, as estradas seriam como as da Alemanha (que estão entre as melhores do mundo) e sem pedágio. Não é essa a escolha que Ranolfo tem de fazer. Trata-se de homologar ou não o resultado de um leilão que teve apenas um concorrente e que o deságio oferecido foi mínimo. Não havia no edital nenhuma cláusula que previsse não homologar o resultado se o desconto sobre o valor máximo fosse baixo. Parece óbvio que, se o preço máximo é R$ 10 e o único candidato oferecer R$ 9,99, está dentro da regra do jogo, mas o barulho que se seguiu ao leilão dá a entender que se o governo não gostar do resultado, larga tudo e sai por aí a vender ilusões.
–Faz 30 anos que não temos nenhum investimento de vulto na nossa região, o que encarece o custo logístico do que precisamos. A pergunta que tem de ser feita é quanto custa não fazer essa concessão – diz o presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul, Celestino Oscar Loro, que fala pela maior parte do PIB da região.
Loro participou de incontáveis reuniões para discutir a concessão do bloco 3 e se revolta quando ouve políticos ou mesmo empresários que não foram às audiências públicas dizerem que faltou diálogo. E desabafa:
– Tem gente que precisa de motorista para vir a Caxias porque não conhece a estrada e que agora quer desmanchar uma construção feita com todos os cuidados. Apresentamos dezenas de sugestões para melhorar o projeto. O governo acatou 95% delas e é claro que isso elevou o custo do pedágio. São R$ 3,5 bilhões em obras, as mais importantes nos primeiros sete anos de concessão. O setor produtivo apoia a concessão porque sabe que se perdemos essa oportunidade, nada vai ser feito nos próximos 10 anos.
Aliás
Não faz sentido comparar a tarifa a ser cobrada na Serra e Vale do Caí com os pedágios da freeway, BR-386 e BR-101, até porque a CRR Via Sul assumiu um pacote com as estradas mais movimentadas do Estado e só terá de duplicar o trecho Lajeado-Carazinho.
Caro é o da BR-116
Se for para comparar, caro mesmo é o pedágio que se paga nas BRs 116 (entre Camaquã e Pelotas) e 392. Automóveis pagam R$ 12,90 por passagem em cada praça, somente para conservação. Todas as obras de peso, incluindo a duplicação, foram ou estão sendo feitas com dinheiro público.