Era nossa última noite de férias no Rio de Janeiro. No dia seguinte, eu embarcaria para os Estados Unidos a trabalho, nosso voo para Porto Alegre era cedo e não podíamos nos esbaldar demais. Decidimos conhecer o Joaquina, um restaurante no Leme muito bem recomendado, mas estava lotado e a espera era de uma hora e meia. Tempo demais para perder. Do concorrente ao lado, ouvimos uma voz potente cantando samba e, por sorte, havia mesa disponível na parte interna.
Comentei com meu marido que aquele senhor devia ser um desses puxadores de samba que a gente vê pela TV nos desfiles das escolas. O garçom ouviu e perguntou se não conhecíamos o cantor. Não conhecíamos, mas estávamos encantados com aquela voz.
— É o Jairzinho. Lembram dele? Jairzinho Furacão, da Copa de 70.
Eu lembrava dele por ouvir falar e por saber de cor a escalação da seleção campeã de quando eu tinha 10 anos. Meu marido, cinco anos mais velho, lembrava da Copa em detalhes e de um certo gol inacreditável de Jairzinho. Logo ele deixou o palco e o cantor titular assumiu o microfone. Sentou-se com a família, pediu seu chope e volta e meia um cliente pedia para tirar fotos.
— Vou lá também — avisei a família.
Meu marido achou que seria invadir a privacidade de Jairzinho, mas aproveitei que outras pessoas estavam tirando foto com ele e fui para dizer que era uma lenda. Simpático, ele apertou minha mão, me abraçou e perguntou se eu queria tirar uma foto também. Contei que no Rio Grande do Sul um artista muito popular, o Teixeirinha, fez uma música para eles, que começava assim: "Salve o Pelé e o Tostão, Jairzinho e Clodoaldo. Salve o Carlos Alberto, Wilson e Everaldo..." Jairzinho deu uma gargalhada, me abraçou de novo e, meu marido, que a essa altura se juntara a nós para também tietar, bateu a foto. Disse a Jairzinho que nunca esqueceu daquele gol no jogo Brasil e Inglaterra, o gol salvador que classificou o Brasil.
— Eu também nunca esqueci — disse o sorridente Jairzinho e os dois engataram uma conversa sobre futebol.
Ganhamos a noite naquela sexta-feira. E saímos do restaurante comentando as diferenças do futebol daquela época com o de hoje, que transforma jovens como Neymar em milionários esnobes, que torram dinheiro em extravagâncias. Jairzinho Furacão vai sempre ao Taberna Atlântica tomar seu chope, comer petisco e cantar para deleite dos clientes.