No início de março, completei 44 anos de vida em Porto Alegre, a cidade que me acolheu menina, aos 17 anos, para estudar e amadurecer. Cheguei com uma mala de papelão que, nos primeiros meses, foi o guarda-roupa. Tudo o que eu tinha cabia nela e sobrava espaço. Assim que passei no vestibular da PUC, para surpresa de quem achava que isso seria impossível para alguém que sempre estudou em escolas públicas e fez o curso de Magistério em Tapera, procurei as pensões que encontrei no guia telefônico para morar, mas nenhuma me aceitou por ser menor de idade. Meus pais foram ao cartório em Espumoso e me emanciparam faltando seis meses para eu completar 18 anos.
Graças à generosidade da amiga Elena Roesler, que não está mais entre nós, fui morar em um apartamento na Rua Riachuelo, 1.280. Éramos 10 naquele apartamento de dois dormitórios e dependência de empregada. Dona Rosalina Serafini assumiu o papel de guardiã dos traços que restavam da minha adolescência. Dali mudei para o Petrópolis, sempre dividindo apartamento com amigas e depois com minhas irmãs, até que terminei a faculdade e achei que já era hora de morar sozinha.
Porto Alegre sempre me tratou como se eu não fosse uma caipira de Campos Borges, que não tinha nem roupas adequadas para uma entrevista de emprego. Quinze dias depois de ter desembarcado na Capital, arranjei o primeiro trabalho, indicada por uma colega de faculdade, Naira Azambuja, para a querida Ana Lúcia Pujol, então secretária executiva na Esso Brasileira de Petróleo. Com crédito educativo e uma disposição singular para o trabalho, terminei a faculdade em quatro anos, sempre empregada, e iniciei uma carreira que me orgulha porque é fruto de esforço e dedicação.
Em Porto Alegre, casei, tive meus filhos e fiquei por opção. É a cidade que escolhi viver e para a qual contribuo como posso. Moro na divisa do Moinhos de Vento com o Rio Branco e tenho a Praça do DMAE como se fosse o jardim da minha casa e, portanto, meu lugar preferido na cidade. Sempre que posso, entro para ver como estão as roseiras, os gerânios, as heras.
Depois de 44 anos, sinto-me cidadã desta Porto Alegre que no sábado (26) completou 250 anos, mas agora terei uma certidão de nascimento. Por sugestão da vereadora Lourdes Sprenger, aprovada por quase todos os vereadores, em junho, receberei o título de cidadã de Porto Alegre. A menina que aqui chegou querendo apenas ser jornalista só pode ser grata a esta cidade e a todas as pessoas que cruzaram seu caminho.