A despeito da consulta pública em andamento, que direciona as perguntas para a vacinação de crianças de cinco a 11 anos apenas com prescrição médica, o Ministério da Saúde deve acabar desistindo dessa ideia, levantada pelo ministro Marcelo Queiroga. Para não se desmoralizar. A cada dia aumenta o número de Estados e municípios dispostos vacinar as crianças com simples autorização dos pais. O Rio Grande do Sul é apenas mais uma na lista da desobediência a uma medida absurda, que pode não vingar.
Se o problema do Ministério da Saúde é falta de doses para atender todo o público-alvo, faz sentido que se dê prioridade às crianças mais vulneráveis, como se fez com outras faixas etárias, começando pelas pessoas que tinham comorbidades. Isso não significa postergar indefinidamente a vacinação dos meninos e meninas saudáveis, cujos pais estão ansiosos pela vacina. Cabe ao Ministério da Saúde fornecer as vacinas aprovadas pela Anvisa para todos os que quiserem imunizar seus filhos.
Crítico da vacina — que até hoje garante não ter tomado —, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira (27), em São Francisco do Sul (SC), que não vai vacinar a filha, Laura, 11 anos. Justificativa? Bolsonaro diz que as vacinas ainda são muito incipientes. Não se sabe o que pensa dessa decisão a mãe de Laura, Michelle Bolsonaro, que se vacinou nos Estados Unidos, à revelia do marido. Os filhos adultos do presidente se vacinaram para poder viajar a outros países, mas Laura não tem escolha: o pai manda, ela obedece.
Fizeram muito bem a secretária da Saúde, Arita Bergmann, e os secretários municipais de Saúde ao se rebelar contra essa possível anomalia antes que seja consumada. A exigência de prescrição médica é particularmente cruel para as famílias mais pobres, que não têm dinheiro para uma consulta com pediatra, nem plano de saúde. De mais a mais, significaria sobrecarregar o sistema público de saúde, encaixando consulta para o médico assinar um papel autorizando a aplicação de uma vacina aprovada pela Anvisa, agência que libera outros medicamentos que os pais administram sem questionar.