Dependendo de como se comportarem vencedores e vencidos na prévia deste domingo, o PSDB corre o risco de sair do processo menor do que entrou. O partido que governou o Brasil de 1995 a 2002, com Fernando Henrique Cardoso eleito duas vezes no primeiro turno, perdeu as quatro eleições seguintes no segundo turno (duas para Lula e duas para Dilma Rousseff) e naufragou em 2018. Na esteira do escândalo que transformou Aécio Neves em uma sombra do candidato que por pouco não venceu a eleição de 2014, Geraldo Alckmin ficou em quarto lugar, com minguados 4,79% dos votos.
Ainda que o Brasil não tenha tradição de prévias, esse mecanismo pode ser uma oportunidade de ocupar espaço no cenário político, divulgar ideias, ganhar vitrine. Nos seus anos de ouro, o PT do Rio Grande do Sul especializou-se em transformar as prévias em uma espécie de campanha antecipada, que garantiu sucesso nas urnas.
Inexperiente em prévias, o PSDB extrapolou a campanha interna e expôs suas fraturas ao país. A tentativa do PSDB de São Paulo de fraudar as regras do certame, inscrevendo eleitores com data retroativa, mostrou uma tentativa de vale-tudo que mina a credibilidade do partido. A comissão eleitoral, com respaldo da direção nacional, retirou esses eleitores da lista, mas ficou a mancha no processo.
O governador João Doria, que em 2018 tentou minar a candidatura de Alckmin, apresentou-se como candidato há mais de dois anos. Cresceu com a luta pela vacina, mas nunca deslanchou nas pesquisas. A rejeição enfrentada em São Paulo, os atritos com o grupo de Alckmin e a elevada rejeição levaram um grupo de tucanos a procurar Eduardo Leite e convidá-lo a entrar no jogo. Para surpresa de quem imaginava que o governador de 36 anos se declararia jovem demais para enfrentar Doria, de 63, Leite topou a parada.
De início, a candidatura era tratada com certo desdém no centro do país e só Doria figurava nas pesquisas. Com o apoio do senador Tasso Jereissati, que desistiu da disputa e passou a ser seu abre-alas no Nordeste, Leite virou um candidato competitivo. Se terá condições de vencer a poderosa máquina de Doria, o Brasil saberá domingo — ou no dia 28, se a decisão for para o segundo turno.
O comportamento dos dois tucanos no pós-prévia será decisivo para saber se o PSDB voltará a ser protagonista da eleição presidencial ou será coadjuvante. Especula-se que o derrotado poderá sair para concorrer por outro partido, o que seria um suicídio político no atual quadro eleitoral.
ALIÁS
Com o repúdio de Eduardo Leite e João Doria ao presidente Jair Bolsonaro, apoiado pelos dois em 2018, o PSDB retorna às origens de partido social-democrata, nascido de uma costela do MDB, que não compactuava com o centrão do governo Sarney.