O périplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Europa teve momentos curiosos nesta segunda-feira (15). Em discurso no Parlamento Europeu, em Bruxelas (Bélgica), Lula fez discurso de candidato, mas, na entrevista a um grupo de jornalistas, disse que ainda não decidiu se vai concorrer a presidente em 2022.
Diante de uma plateia de parlamentares do bloco social-democrata no Parlamento, Lula afirmou que pretende “provar que é possível resolver os problemas do povo pobre quando ele é colocado no Orçamento e tirado do Imposto de Renda” e que “o PT tem pela frente a missão de reconquistar a democracia e fortalecer o papel do Brasil na construção de uma América Latina progressista e inclusiva”.
Na entrevista, depois de dizer que ainda não decidiu se será candidato, uma jornalista apontou a contradição, lembrando que ele acabara de fazer um discurso de candidato.
— Eu não entendo que tenha feito discurso de campanha porque eu não pedi voto. Fui agradecer o apoio que recebi das forças progressistas europeias, tão solidárias ao Brasil desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff até a minha prisão — desconversou.
Outra repórter perguntou sobre as especulações de que poderá ter o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin como seu vice em 2022 e questionou se ele não temia ser traído, como Dilma Rousseff foi por Michel Temer. Lula não confirmou, mas deixou a porta aberta e elogiou o ainda tucano:
— Eu já tive 22 vices (pelas especulações) e oito ministros da Economia, mas não tem nada definido. Vice tem de ser levado muito a sério. Tem de ser uma pessoa que soma e não diverge. Com Alckmin, tenho uma relação de respeito. Ele foi governador quando eu era presidente. Não há nada que não possa ser reconciliado quando não há ofensa moral ou pessoal.
Depois, usando uma metáfora do futebol, reforçou a ideia de que Alckmin pode, sim, vir a ser vice:
— A política é como no futebol. No meio do jogo, todo mundo quer ganhar e dá umas caneladas. Terminado o jogo, todo mundo se abraça e vai beber uma cervejinha.
Aos parlamentares, disse que teve o privilégio de ser presidente em um momento muito importante para a América Latina, em matéria de inclusão e ascensão social. E defendeu o investimento nos pobres:
— Todo dinheiro gasto com saúde e educação não pode ser visto como gasto, é investimento. Financiar bolsa para um estudante pobre não é gasto. Todo dinheiro para o capital é investimento, todo o dinheiro para o pobre é gasto, é preciso inverter essa lógica, mesmo porque quem paga o Estado brasileiro são os pobres. Quem paga Imposto de Renda é o pobre. Quem recebe salário é descontado na fonte, no dia do pagamento. Rico não paga imposto no Brasil.
No Parlamento Europeu, Lula alertou para o que considera “perigo representado pela ascensão do fascismo no mundo, em especial, no Brasil”: