No dia em que o Brasil ultrapassou a barreira das 600 mil mortes por covid-19, os especialistas são unânimes em afirmar que há luz no fim do túnel e a curva de contaminação deve continuar baixando, mas ainda não é hora de baixar a guarda. Graças à vacina, a ocupação de leitos de UTI no Rio Grande do Sul, que em determinados momentos passou de 100%, com improvisações, está em 59,2%.
Ainda assim, são 447 pacientes com coronavírus internados em UTIs, segundo o mais recente boletim da Secretaria da Saúde, o que reforça a necessidade de manter o distanciamento, o uso de máscara e a higienização das mãos. No momento mais crítico da pandemia, o Estado foi colocado em bandeira preta porque a relação entre leitos livres e ocupados ficou abaixo do limite prudencial de 0,35. Nos dias seguintes, chegou a ficar negativo. Hoje, a relação é de 3,01 leitos livres para cada leito ocupado.
A curva no número de casos, internações e mortes cai conforme a vacinação avança. Deve cair ainda mais com a terceira dose para as pessoas mais vulneráveis, pela idade, pelas doenças preexistentes ou pelo contato com o vírus, caso dos profissionais de saúde.
Paradoxalmente, o presidente Jair Bolsonaro insiste em questionar a validade da vacina. O alvo agora é a vacinação de jovens com menos de 20 anos. Em um discurso no Palácio do Planalto, na véspera de o Brasil chegar a 600 mil mortos, Bolsonaro perdeu mais uma oportunidade de ouro de ficar calado. Disse o presidente:
— O número de pessoas que morrem por covid abaixo de 20 anos está - hein, Queiroga? - 99,99 alguma coisa. Não é isso, Queiroga? Então, por que vacina? Meu Deus do céu. Será que é um negócio que estamos vendo em jogo no Brasil e no mundo? É um negócio que ninguém tem coragem de falar, porque politicamente não é bom falar, se perde voto, perde simpatia. Vão te chamar de negacionista, de terraplanista. Vivemos a hipocrisia, e quase o mundo todo vive na hipocrisia.
Além de a frase não fazer sentido — provavelmente quis dizer que a mortalidade é abaixo de 0,01% — Bolsonaro ignora que o número de mortos na faixa abaixo de 20 anos não é tão inexpressivo assim. São quase 4 mil. Pergunte a um pai ou mãe que perdeu o filho para o vírus se concorda que, sendo o percentual de infectados baixo, não vale a pena investir em vacinas.
Não se sabe se é só obsessão pela cloroquina ou preocupação com os gastos, mas Bolsonaro repete agora com os jovens o que dizia há um ano, quando se recusava a comprar vacinas. Quem não tem memória seletiva há de lembrar que ele tratava a imunização como um negócio e sugeria que os laboratórios deveriam rastejar atrás do Brasil, pelo tamanho da sua população.
Quantas pessoas terão morrido porque a vacinação não começou antes? Quantas terão se infectado por influência do presidente que não usa máscara, promove aglomeração e faz pouco caso da vacina? Quantos morreram por acreditar que estavam protegidos tomando ivermectina, cloroquina e outras drogas?
O Brasil é o segundo país com mais mortes por covid, em números absolutos. Perde apenas para os Estados Unidos, com 730 mil. Na proporção de mortos cada 1 milhão de habitantes, também está entre os primeiros, com 2.797, número só superado na América Latina pelo Peru, que tem 5.498 mortos por milhão.
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