Foi a truculência do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que hoje cumpre prisão preventiva, o único motivo da saída do vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, que nesta terça-feira (14) formalizou a desfiliação do partido. Nas redes sociais, Ranolfo divulgou uma nota branda, dizendo que não sairá atirando, porque esse não é o seu perfil (confira a íntegra ao final do texto).
Na prática, Ranolfo já estava fora desde março, quando foi alvo da ira de Jefferson por se manter fiel ao governador Eduardo Leite. À época, incomodado com as medidas restritivas adotadas no Rio Grande do Sul para conter a pandemia, Jefferson fez ataques a Leite com insinuações grosseiras de cunho homofóbico.
Como Ranolfo ficou ao lado de Leite, Jefferson dissolveu o diretório estadual. Em áudios encaminhados a grupos de WhatsApp, disse que vice-governador e os deputados que o apoiaram já saíram tarde do PTB. Com o linguajar chulo que lhe é característico, Jefferson tornou insuportável a permanência dos que têm dignidade.
Ranolfo assinará ficha no PSDB nos próximos dias. Falta apenas acertar alguns detalhes. Com ele, irão deputados, prefeitos e vereadores. A debandada no PTB só não se concretizou ainda porque os parlamentares que têm mandato não querem correr o risco de perdê-lo por infidelidade partidária e só trocarão de sigla na janela de março de 2022, mas a maioria já está acertando outro caminho, de acordo com as conveniências eleitorais.
O deputado federal Maurício Dziedricki irá para o Podemos. O deputado Aloisio Classmann e os secretários Regina Becker e Ronaldo Santini devem acompanhar Ranolfo no PSDB. O vice-governador ainda não perdeu a esperança de levar com ele o secretário Luiz Carlos Busato e o deputado Dirceu Franciscon, que estão entre o PSDB e o Republicanos.
Os que ficarem no PTB correm o risco de não conseguir se reeleger, caso seja mantida a regra que proíbe coligações, pela dificuldade de atingir o coeficiente eleitoral.
Depois de assinar a desfiliação, Ranolfo disse que foi um dia triste:
— Não está sendo fácil. O PTB foi meu único partido. Entrei em 2 de outubro de 2013 e não gostaria de sair, mas não restou alternativa. Fomos empurrados para fora do PTB, como outros estão sendo.
Não é só no Rio Grande do Sul que o PTB está perdendo líderes de peso por causa de Roberto Jefferson. O partido está minguando no Paraná, na Bahia, em Pernambuco, no Maranhão e em Goiás.
Leia a nota divulgada por Ranolfo Vieira Júnior
"Depois de quase oito anos, assinei hoje minha desfiliação do PTB. Foi um período de muito trabalho, parceria e dedicação, sempre com respeito e admiração aos colegas petebistas, e com foco na melhoria da qualidade de vida da população.
Tomei essa decisão, vocês sabem, porque não tive outra alternativa — inclusive em respeito ao histórico local dos companheiros petebistas e ao cargo que eu exerço como vice-governador do Rio Grande do Sul, em sintonia com o governador Eduardo Leite.
Mas eu não saio atirando ou criando polêmica desnecessária, esse não é o meu perfil. Eu saio agradecendo a todos com quem convivi durante esses anos, em especial às bancadas federal e estadual. Sei que muitos também estão estudando seus caminhos com autonomia e naturalidade. Dividimos importantes projetos na segurança pública e em outras áreas da gestão, seja na Prefeitura de Canoas ou no Governo do Estado. Compartilhamos experiências e alcançamos resultados positivos, especialmente com a redução dos indicadores de criminalidade. Eventualmente em partidos diferentes, mas sei que seguiremos juntos.
Em breve, pretendo avaliar e anunciar os próximos rumos políticos e a decisão em torno de uma nova filiação partidária, avaliando, claro, o alinhamento aos propósitos e às ideias aos quais defendo. Partidos são importantes na democracia, mas o interesse público precisa vir em primeiro lugar. E a minha prioridade, como vice-governador, ao lado do governador Eduardo Leite, é cuidar bem do nosso Rio Grande.
Estamos juntos!
Ranolfo Vieira Júnior"