De todas as autoridades que se manifestaram sobre os discursos do presidente Jair Bolsonaro nos atos de 7 de setembro, nenhuma foi mais contundente do que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luis Roberto Barroso. Dono do melhor texto entre os 11 ministros do Supremo, Barroso produziu um documento para a História, que leu na abertura dos trabalhos do TSE nesta quinta-feira (9).
Referindo-se ao comportamento de Bolsonaro no 7 de setembro e em outros momentos, afirmou que “começa a ficar cansativo para o Brasil ter que repetidamente desmentir falsidades, para que não sejamos dominados pela pós-verdade, pelos fatos alternativos, para que a repetição da mentira não crie a impressão de que ela é verdade.”
— A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo — afirmou.
O ministro disse que a “marca Brasil” sofre uma desvalorização global, por conta dos ataques do presidente às instituições:
— Não é só o real que está desvalorizando. Somos vítima de chacota e de desprezo mundial. Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da Bolsa, do que desmatamento da Amazônia, do que o número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos.
Em outro trecho, referindo-se aos ataques de Bolsonaro à democracia, o ministro discursou:
— A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos. A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la.
Referindo-se às repetidas acusações de Bolsonaro de que as urnas eletrônicas não são confiáveis e que houve fraude na eleição de 2018, o ministro foi ainda mais duro:
— O presidente da República repetiu, incessantemente, que teria havido fraude na eleição na qual se elegeu. Disse eu, então, à época, que ele tinha o dever moral de apresentar as provas. Não apresentou. Continuou a repetir a acusação falsa e prometeu apresentar as provas. Após uma live que deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros, foi intimado pelo TSE para cumprir o dever jurídico de apresentar as provas, se as tivesse. Não apresentou. É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos, que são cegos pelo radicalismo, e os mercenários, que são cegos pela monetização da mentira, todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história.
À noite, na live de uma hora em que falou sobre o 7 de setembro e tangenciou sobre a nota em que tenta consertar o estrago de suas declarações, Bolsonaro voltou a alfinetar Barroso. Registrou que soube do discurso do ministro e que também foi informado de que Barroso prometeu aperfeiçoar o sistema eleitoral.
— Se ele diz que precisa aperfeiçoar, é porque concorda que não está bom. É como uma mulher que usa maquiagem. Se usa é porque acha que não está bonita.
E emendou, em tom deboche:
— Significa que a urna é penetrável (risos). É pe-ne-trá-vel, Barroso.
O que o presidente do TSE propôs não é nenhuma mudança no sistema da urna eletrônica, mas a ampliação das possibilidades de fiscalização pelos partidos políticos e entidades da sociedade civil e de maior transparência ao sistema eletrônico de votação.
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