Repetidas vezes o provérbio espanhol “Cria cuervos y te sacarán los ojos” foi usado nesta quinta-feira (9) em comentários sobre a greve dos caminhoneiros e o estrago que pode produzir no governo de Jair Bolsonaro. Pelos prejuízos à economia, pelo risco de desabastecimento ou pela irritação dos outros motoristas que queriam seguir viagem e foram impedidos.
Traduzido para a realidade brasileira, significa que bolsonaristas alimentaram a fantasia de um grupo de caminhoneiros de que que seriam capazes de derrubar os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal ou, no mínimo, garantir o impeachment de Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, se trancassem as estradas brasileiras e só deixassem passar ambulâncias e carros de bombeiros. Bolsonaro mesmo teria cevado os algozes que lhe causam transtornos.
Os dois parágrafos acima reproduzem o equívoco de quem não está acostumado à lógica bolsonarista. O provérbio "cría cuervos" é totalmente inadequado para a ocasião. Pode até vir a fazer sentido no futuro, mas hoje o governo está comemorando internamente a prova de que tem o apoio de caminhoneiros que podem parar o país quando e se o presidente quiser, talvez para "sacar los ojos" de quem venha a colocar obstáculos no caminho do seu projeto de poder.
Antes de divulgar a nota escrita por Michel Temer e assinada por ele para tentar acalmar o mercado financeiro, Bolsonaro fez um pedido, em áudio, para que os caminhoneiros desobstruíssem as estradas. Parecia uma imitação do presidente e logo se espalhou pelas boleias a versão de que se tratava de fake news, talvez alguma coisa do humorista Marcelo Adnet.
O áudio era de Bolsonaro, mas não havia convicção nas palavras, talvez por constrangimento, talvez para testar um pouco mais a capacidade de resistência dos caminhoneiros.
Sem o apoio das empresas de transporte de cargas, a adesão à greve foi mínima, mas causou transtornos porque parte dos caminhoneiros teve de parar compulsoriamente, temendo pela vida ou pelo patrimônio, já que foram ameaçados. Na memória de alguns ainda estão vivas as cenas de terror de 2018, quando quem não queria aderir à paralisação era apedrejado.
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