A entrevista que o presidente Jair Bolsonaro deu à revista Veja, a propósito dos mil dias de governo, que completa no início de outubro, reflete as mudanças operadas no seu comportamento desde que divulgou a nota apaziguadora escrita pelo ex-presidente Michel Temer e assinada por ele. Na conversa divulgada nesta sexta-feira (24), e que estará na edição impressa do fim de semana, Bolsonaro se compromete a respeitar o resultado da eleição, descarta a possibilidade de golpe e, surpresa maior, abranda o discurso contra a urna eletrônica.
Numa das respostas, que deve causar furor entre os bolsonaristas mais encanzinados com a rejeição do voto impresso, o presidente chega a ensaiar um elogio ao ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, por ter editado uma portaria ampliando a participação da sociedade civil na fiscalização da urna eletrônica, com a inclusão de um integrante das Forças Armadas. Essa possibilidade de fiscalização sempre existiu, mas até 7 de setembro Bolsonaro ignorava solenemente e só queria saber de lançar suspeitas sobre o sistema. Chegou a ameaçar pedir o impeachment de Barroso, mas no fim acabou desistindo e focando apenas em Alexandre de Moraes. O Senado arquivou sumariamente o pedido.
Por mais habilidoso que Temer seja politicamente, sua lábia, sozinha, não teria o poder de produzir uma guinada tão acentuada no discurso de Bolsonaro. Para contextualizar a mudança é preciso lembrar que todas as pesquisas divulgadas até aqui mostram que a popularidade de Bolsonaro só caiu depois que ele radicalizou o discurso, antes e durante a manifestação de 7 de setembro na Avenida Paulista.
A avaliação negativa do governo passou dos 50%, Bolsonaro está muito abaixo de Lula nas pesquisas de primeiro turno e perde para qualquer dos possíveis adversários no segundo. Mesmo quem publicamente diz não acreditar em pesquisa, para e pensa para ver o que fez de errado. Que ninguém se iluda achando que é sincera a versão de nenhum integrante do time Bolsonaro acredita em Datafolha, Ipec, XP/Ipespe, para ficar com três pesquisas que tiveram resultados semelhantes em seus últimos levantamentos.
O que se conhece da conversa com Temer é a versão oferecida ao país pelos dois. À Veja, Bolsonaro, disse que Temer mandou dizer que tinha algumas ideias, mas que só gostaria de expô-las pessoalmente. De imediato, ele mandou um avião da FAB buscar o ex-presidente em São Paulo. A conversa foi longa e dela resultou a nota que frustrou a turma que queria, segundo Bolsonaro, que ele “chutasse o pau da barraca”. O que mais conversaram? Não se sabe. O que Bolsonaro disse e ouviu do ministro Alexandre de Moraes, no telefonema arranjado por Temer? Também não se sabe. O certo é que de lá para cá as coisas mudaram, e quem apostou que a trégua não duraria uma semana, perdeu.
Melhor para o país, que se afaste do horizonte o fantasma de um golpe ou de qualquer tentativa de ruptura. Os investidores já sinalizaram que não colocarão (ou manterão) seu dinheiro em um país politicamente instável, com risco de convulsão social. O resto é conversa de rede social.
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