Tanto se discutiu o voto impresso nos últimos dias que um desavisado pode pensar que não existem outros problemas mais graves com que se preocupar neste Brasil governado pelas redes sociais. Criou-se uma cortina de fumaça que por vários dias escondeu o que deveriam ser as maiores preocupações dos brasileiros neste momento: a inflação mostrando as garras afiadas (subiu 8,99% em 12 meses), o desemprego (14,8 milhões, pelos dados do IBGE), e o coronavírus que já matou mais de 565 mil brasileiros e volta a assustar com variante Delta.
De alguma forma, essa combinação de flagelos afeta diretamente a vida de todos os brasileiros, mas os mais afetados são, naturalmente os mais pobres. A crise social se agiganta na mesma medida em que a educação se apequena, com um ministro omisso que, por mais de um ano, fez de conta que os problemas decorrentes da pandemia deveriam ser tratados em outro guichê.
A discussão sobre o voto impresso e a crise decorrente do embate do presidente Jair Bolsonaro com o Supremo Tribunal Federal também ofuscaram a CPI da Covid. Na volta do recesso, os senadores ouviram apenas personagens secundários, mas a CPI terminou a quarta-feira com uma notícia de impacto: a de que deve indiciar Bolsonaro por charlatanismo, por ter propagandeado medicamentos sem eficácia para o combate à covid-19. Esse indiciamento terá alguma consequência? Provavelmente não.
Mesmo que não se possa comparar bananas com laranjas, a votação de terça-feira mostrou que, se Bolsonaro não conseguiu os 308 votos para aprovar o voto impresso, a oposição também não força para afastá-lo, e nem passa pela cabeça do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), abrir um processo de impeachment. Disso resulta que o indiciamento por charlatanismo será apenas mais uma marola.
No embalo da votação da véspera, Lira resolveu colocar em pauta um monstrengo que atende pelo nome de reforma eleitoral e que pode piorar o que já era ruim. Não bastasse a mudança das regras do jogo sem uma discussão profunda, no limite do prazo para valer na eleição de 2022, nada se vê para baratear o custo das campanhas e reduzir o volume de dinheiro público necessário para financiar as eleições.
A proposta que chegou ao plenário da Câmara prevê a adoção do sistema eleitoral conhecido como distritão ou o retorno das coligações para as eleições ao Legislativo, além da criação do “voto preferencial”, em que as pessoas poderão votar em até cinco nomes para o Executivo.
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