A 470 dias de encerrar seu mandato — ou a menos de 300 de deixar Palácio Piratini, se for candidato a outro cargo —, o governador Eduardo Leite anunciou o mais ambicioso programa de investimentos em infraestrutura da história do Rio Grande do Sul. Não se trata apenas do R$ 1,3 bilhão do orçamento para aplicação em rodovias em um ano e meio, que só parece bastante porque a média do Daer é de R$ 150 milhões por ano. O pacote completo inclui os R$ 10 bilhões a serem investidos pelas concessionárias privadas nos 30 anos em que terão sob sua responsabilidade 1.131 quilômetros de rodovias, a partir de 2022.
A apresentação, repleta de símbolos, mostrou a tentativa de Leite de virar a página da crise apresentando um programa robusto de investimentos que só será possível porque a Assembleia Legislativa aprovou as reformas que ele propôs. Uma dezena de vezes o governador agradeceu aos deputados pela coragem de enfrentar a minoria barulhenta, as vaias e as críticas das corporações para atender à maioria silenciosa que será beneficiada com as obras.
Essa maioria ganhou voz — e esse foi um dos momentos mais simbólicos das mais de duas horas em que falaram o governador, que é do PSDB, o líder do governo, Frederico Antunes (PP), o secretário de Logística e Transportes, Juvir Costella (MDB) e o presidente da Assembleia, Gabriel Souza (MDB). Em meio à apresentação das obras para cada região apareciam na tela vídeos curtos com depoimentos de gaúchos e gaúchas, na sua variedade de sotaques, falando do significado de um acesso pavimentado, do asfaltamento de uma ligação regional, de uma duplicação.
Dezenas de municípios dos quais quase nunca se ouve falar apareceram como beneficiários de obras esperadas há anos, às vezes décadas, e que começam a ser executadas no segundo semestre deste ano. É como se o governador fincasse um alfinete virtual em diferentes pontos de cada região para assinar que ali haverá uma obra. Leite fez questão de reafirmar que não será candidato à reeleição e de dizer que “não se trata de cravar uma estaquinha no ano eleitoral, porque o a maioria dos investimentos será feita ainda em 2021”.
O grosso dos investimentos virá do setor privado e, naturalmente, terá custo para os usuários das rodovias, que pagarão pedágio para circular. As estradas que serão concedidas por 30 foram divididas em três blocos. Dos 1.131 quilômetros, 73% serão duplicados ou triplicados ao longo desse período. Estão previstos 808 quilômetros de acostamento e 831 obras de adequação das rodovias nos municípios, incluindo passarelas, acessos e contornos.
Dos R$ 10 bilhões previstos em investimentos em 30 anos, R$ 3,9 bilhões terão de ser aplicados nos primeiros cinco anos da concessão, período em que os vencedores das licitações terão de duplicar pelo menos 317 quilômetros. Leite destacou quem em nove anos cobrando pedágios, a EGR só duplicou sete quilômetros.
O programa Avançar tem outros dois eixos, que serão detalhados em momentos distintos, e que tratam de sustentabilidade e de qualificação dos serviços prestados aos cidadãos, o que inclui investimentos na área da segurança pública.
Quem acompanhou a apresentação do programa Avançar, no Salão Negrinho do Pastoreio ou pela internet, percebeu, nas entrelinhas, dois movimentos políticos claros. Primeiro, o reforço na imagem de Eduardo Leite como um político moderno, aberto à parceria com o setor privado e que busca soluções, mesmo que isso signifique adotar medidas impopulares.
Segundo, a defesa da continuidade do projeto iniciado com José Ivo Sartori e que criou as bases para as reformas aprovadas por Leite. É a sustentação de uma provável aliança PSDB-MDB, centrado em três eixos: compromisso com o equilíbrio fiscal, rediscussão do tamanho do estado e modernização da máquina pública. Na plateia estavam três possíveis candidatos a liderar esse projeto: em ordem alfabética, Alceu Moreira, Gabriel Souza e Ranolfo Vieira Júnior.
Aliás
Entre os destaques do amplo programa de investimentos anunciado por Eduardo Leite está a duplicação da RS-122, pela concessionária que assumir as rodovias da região, para que, finalmente, a Serra tenha uma ligação duplicada com Porto Alegre.
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.