O anúncio de um pacote de R$ 5,2 bilhões em cinco anos, dos quais R$ 1,3 bilhão em recursos públicos até o final de 2022, feito nesta quarta-feira pelo governador Eduardo Leite, animou o segmento de construção de rodovias no Estado, mas também despertou ceticismo sobre a origem dos recursos para bancar as obras.
Segundo Ricardo Lins Portella Nunes, presidente do sindicato que reúne empresas que constroem e pavimentam rodovias no Estado, o Sicepot-RS, o programa é "equilibrado" ao incluir concessões ao setor privado e investimento públicos. Paulo Menzel, presidente da Câmara Brasileira de Logística e Infraestrutura, pondera que não há clareza de que o plano de concessão se sustente.
Ao apresentar o plano, Leite mencionou três eixos: Avançar no Crescimento, que inclui logística e desonerações fiscais, Avançar Pessoas, nas áreas de cultura, segurança e educação, e Avançar com Sustentabilidade, inspirado nos programas de retomada pós-pandemia de Estados Unidos e da Europa, focados em iniciativas "verdes". No entanto, só detalhou parte do primeiro, o do pacote de obras rodoviárias.
— É um grande desafio, serão 18 meses de muito trabalho — avalia Portella.
A coluna considera que R$ 1,3 bilhão em investimento público em rodovias é muito perto dos aportes feitos na história recente — R$ 150 milhões ao ano nos últimos cinco anos, segundo o governador —, mas pouco perto das necessidades. Portella pondera que o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) vai investir R$ 5 bilhões neste ano, em todo o país. É bom lembrar que o Dnit vem enfrentando sérias restrições orçamentárias, tanto que teve de suspender a conclusão da nova ponte sobre o Guaíba.
Conforme o presidente do Sicepot-RS, como o Rio Grande do Sul fica na "ponta sul do Brasil", logística é fundamental. Lembrou que o empresário Jorge Gerdau Johannpeter disse, no primeiro encontro com o ex-governador José Ivo Sartori, que os problemas da economia do Estado eram três: logística, logística e logística. Para sustentar a tese, afirma que o custo de transportar uma carga de soja por 80 quilômetros em estrada ruim equivale praticamente ao de levar essa mesma carga até a China por navio.
Menzel, que participou da montagem da concessão da freeway em conjunto com trechos da BR-386, disse que ficará "muito surpreso" se o investimento público de R$ 1,3 bilhão se concretizar. O especialista disse ter lembrado do plano Duplica RS, apresentado pela então governadora Yeda Crusius em 2008.
— Os projetos são parecidos. Não discuto a necessidade nem a adequação: tem de fazer. A escolha dos projetos é correta, do ponto de vista logístico, é perfeito. O financiamento é uma grande dúvida — pondera.
Um dos pontos da apresentação chamou atenção de Menzel: o que diz que as obras serão condicionadas ao volume de tráfego. Segundo o especialista, isso significa que o concessionário poderá fazer "quando der", porque vai depender do fluxo:
— Se as obras estão condicionadas ao volume de tráfego, quer dizer que ninguém terá como obrigar a fazer. O Rio Grande do Sul aceitou de novo a ideia do pedágio, mas o gaúcho não aceita começar a pagar agora e ter obras em 20 anos.