O bom senso falou mais alto e o prefeito Sebastião Melo acabou recuando na intenção de trazer jogos da Copa América para Porto Alegre. Depois de dizer ao repórter Carlos Rollsing que estava “entrando com campo com toda a força e toda responsabilidade” para trazer a competição para a Capital, Melo mudou o discurso. Na tribuna da Câmara de Vereadores e nas redes sociais, disse que estava apenas “tentando dialogar” para atrair os jogos, com a condição de que fossem sem público e seguindo rigorosos protocolos sanitários.
Na conversa com Rollsing, o prefeito fora incisivo:
— Porto Alegre é a capital do Mercosul, e nada melhor que seja aqui. Temos estrutura para isso e tradição.
Criticado nas redes sociais e chamado de negacionista por abrir a cidade para jogadores, equipes técnicas e jornalistas, no momento em que o Rio Grande do Sul enfrenta o recrudescimento da pandemia, o prefeito caiu fora. Antes, o governador Eduardo Leite havia dito que considerava inoportuno e inconsequente trazer a Copa América para o Brasil. Mais tarde, Leite divulgou nota dizendo que, se fosse procurado pela CBF ou pela Conmbeol, reuniria o Conselho de Estado para decidir em conjunto.
Na mesma linha, o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan, mostrou-se contrário à proposta do prefeito. Melo manifestou a intenção antes de falar com os dirigentes dos clubes.
O procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, concordou com Leite:
— O governador tem razão. Virão jogadores de diferentes partes do mundo. Seria uma sinalização pública potencialmente muito ruim, em momento crítico da pandemia. Minha opinião pessoal é de que é inoportuno.
Companheiro de partido do prefeito, o presidente da Assembleia, Gabriel Souza (MDB), fez coro a Dallazen e ao governador:
— Temos de ter cautela. O momento não é de atrair público de outros países, ainda mais quando estamos preocupados com a piora dos indicadores da pandemia. A dúvida é o quanto teremos gerência sobre esse assunto, na medida que, se a competição ocorrer no país, o público estrangeiro acabará circulando no território nacional.
Qual seria a base legal para impedir a realização dos jogos, se houve uma ordem em contrário do presidente da República e a concordância do prefeito? O procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, diz que, em tese, o Estado tem poder para barrar os jogos em nome da segurança sanitária.
O procurador acredita que a mesma decisão do Supremo Tribunal Federal que deu a Estados e municípios autonomia para adotar medidas de restrição à circulação de pessoas poderia ser usada para embasar eventual proibição à realização dos jogos.
Aliás
Na empolgação, depois do anúncio de que o presidente Jair Bolsonaro acertara a realização da Copa América no Brasil com a Conmebol, o prefeito Sebastião Melo se precipitou. Teve grandeza para recuar e poupar os porto-alegrenses de um risco desnecessário.
Mundos diferentes
Com um cenário epidemiológico muito menos preocupante do que o Rio Grande do Sul (houve apenas dois óbitos de domingo para -segunda-feira), o governo de Portugal está recebendo duras críticas em razão do descumprimento de protocolos na cidade do Porto, que recebeu no último sábado (29) a final da Liga dos Campeões da Europa, disputada por Chelsea e Manchester City.
A gestão local não controlou as aglomerações de torcedores. Ainda que tenha permitido a ocupação parcial do estádio, a maioria dos casos de descumprimento das regras de distanciamento social foram registradas nas ruas, nos dias que antecederam a partida. As cenas de ingleses aglomerados e sem máscaras se proliferaram, e o desrespeito às normas sanitárias provocou críticas de líderes políticos e da população em geral, que ainda está sob restrições.
De acordo com o jornal Correio da Manhã, uma fonte a Polícia de Segurança Pública (PSP) recebeu "ordens superiores" para que se deixasse os torcedores aproveitar, beber e contribuir para a economia portuguesa.
Antes do evento, o governo havia garantido que os torcedores chegariam ao país e retornariam no mesmo dia. Entretanto, os festejos em público começaram ainda durante a semana, e se estenderam para o dia posterior ao jogo. A falta de ação das autoridades motivou críticas do presidente Marcelo Rebelo de Sousa ao governo - Portugal vive em um sistema parlamentarista.
- Não é possível dizer que vêm em bolha para assistir a um espetáculo esportivo e depois não vêm em bolha, não é possível - reclamou Rebelo.
O presidente do Porto, Jorge Nuno de Lima Pinto da Costa, chegou a pedir a demissão do primeiro-ministro António Costa. Em declaração à imprensa, Costa admitiu as falhas, mas disse que apenas 20% dos torcedores não se enquadraram no "regime de bolha" planejado para o jogo.
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