A ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), um dos dados mais usados no mundo para mostrar o risco de colapso no sistema hospitalar, não é o único parâmetro para medir o tamanho do problema nas grandes cidades. Por receber pacientes em estado grave, as UTIs e o esgotamento dos profissionais que nelas trabalham, acabam colocando em segundo plano outro drama, o das emergências do SUS. De um modo geral, a classe média, que tem plano de saúde, desconhece que se passa na periferia.
Como as emergências dos grandes hospitais só recebem pacientes encaminhados por unidades que fizeram o primeiro atendimento, a principal porta de entrada em Porto Alegre passou a ser as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). São quatro na Capital — Bom Jesus, Cruzeiro do Sul, Lomba do Pinheiro e Zona Norte, esta última gerenciada pelo Grupo Hospitalar Conceição.
Por serem estruturas menores, as UPAs deveriam manter os pacientes que precisam de internação em observação por no máximo 24 horas, mas com o aumento da demanda por leitos hospitalares, esse tempo foi ampliado, como relata Alexandre Bublitz, coordenador Médico da UPA Bom Jesus:
— Frequentemente temos mais de 300% de lotação e não me recordo da última vez que ficamos com menos de 100% dos leitos ocupados. Muitos desses pacientes necessitam ficar em cadeiras ou poltronas por vários dias. É comum ficarem mais de três dias em observação em um local insalubre, por vez mais de uma semana, à espera de um leito em hospital. Tivemos um paciente que ficou 13 dias na UPA esperando leito.
Bublitz diz que esse quadro ocorre desde o início do ano passado, mas se agravou nos últimos meses, com o desgaste das equipes de saúde e a falta de médicos no Postão da Cruzeiro, uma das quatro portas de entrada do sistema de emergência.
A Secretaria Municipal da Saúde confirma que a empresa Samed, escolhida em licitação para suprir a necessidade de profissionais de saúde não está conseguindo fornecer médicos para os plantões. Isso explica por que na sexta-feira, quando na UPA da Bom Jesus a ocupação, com leitos improvisados e cadeiras, passava de 300%, na Cruzeiro o índice era de 50%.
No final de 2020, a Samed foi notificada de que o contrato será rescindido, por mas recorreu e a prefeitura precisa cumprir os trâmites burocráticos para fazer um contrato de emergência com outra instituição que forneça os profissionais que faltam no quadro da Secretaria Municipal da Saúde.
Aliás
O ex-secretário municipal da Saúde Pablo Stürmer costumava dizer que os óbitos e as internações em UTIs eram indicadores tardios da evolução da pandemia. A ocupação de leitos ambulatoriais é um sinal importante para tomar providências e evitar o colapso.
Melo conversa com a oposição
Na tentativa de abrir um canal de diálogo com a bancada mais votada na eleição de 15 de novembro, o prefeito Sebastião melo se reúne hoje, às 15h, no Salão Nobre da Câmara, com os vereadores do PSOL.
O líder da bancada, Roberto Robaina, vai informar ao prefeito que recorrerá à Justiça para impedir a distribuição dos kits com ivermectina e hidroxicloroquina na rede municipal de saúde.
O vereador argumenta que oferecer esses medicamentos, além de não contribuir para a melhora de pacientes com covid-19, onera os cofres públicos com a compra de produtos sem eficácia comprovada. A bancada vê com preocupação e indignação a aproximação crescente de Melo ao presidente Jair Bolsonaro.