Duas vezes secretária estadual de Educação e até 31 de dezembro adjunta do secretário municipal, Adriano Naves de Britto, por indicação partidária, a ex-deputada Iara Wortmann pediu desfiliação do MDB, magoada com o partido e com o prefeito Sebastião Melo.
Embora Melo tivesse anunciado dias antes a pedagoga Janaína Audino como secretária da Educação e, no mesmo ato, sua adjunta, Maria Ângela Gandolfo, Iara reclama que soube de sua exoneração pelo Diário Oficial do dia 2 de janeiro.
Em carta à executiva municipal do MDB, a ex-secretária desabafou: “É evidente que o governante eleito possui total legitimidade para fazer nomeações/exonerações. Entretanto, não tem o direito de desconsiderar pessoas. Por óbvio, o Prefeito eleito não tinha obrigação de me manter no cargo, mas tinha o dever de informar que me exoneraria. Não fosse pelo respeito à pessoa, no mínimo, por consideração a uma colega de partido. Minha leitura foi que para o MDB as pessoas são descartáveis e as mulheres possuem 'prazo de validade'”.
Iara disse à coluna que encaminhou a carta à executiva do MDB, lacrada, e que lamenta o vazamento:
_ Se eu tivesse a intenção de divulgar, teria publicado nas redes sociais. Foi uma manifestação pessoal, dirigida à executiva que, infelizmente, acabou vazando. Reitero que não tinha expectativa de continuar, mas fiquei incomodada por saber da exoneração pelo Diário Oficial.
Ao tomar conhecimento da manifestação de Iara, Melo fez um comentário sucinto:
_ Eu também tomei conhecimento pelo Diário Oficial que a Iara, por quem tenho muito carinho, respeito e admiração, tinha entrado no governo Marchezan. E fiquei chateado porque mesmo sendo dirigente do MDB há 42 anos, não fui informado de que ela iria para o governo. Zero a zero.
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Confira a íntegra da carta:
“À Executiva Municipal do MDB/Porto Alegre:
Comunico que hoje, dia 4 de janeiro de 2021, estou entregando, na secretaria do partido, requerimento de desfiliação do MDB.
Desde já, esclareço que a presente manifestação é desprovida de qualquer formalidade técnica, pois estou tomada por sentimentos de profunda decepção, desconsideração e desrespeito, para dizer o mínimo. Nunca havia sentido tamanha ofensa à minha dignidade em toda a minha vida pessoal e profissional. E olha que são anos dedicados ao serviço público, inclusive como concursada.
Sei que por muitos não serei compreendida; por outros, até mesmo julgada. Coisas da vida...
O choque veio quando, no segundo dia do corrente ano, ao abrir a edição extra do Diário Oficial do Município de Porto Alegre, me deparei com a publicação, a contar de 01/01/2021, da minha exoneração da função de Secretária Adjunta da Secretaria de Educação do Município Porto Alegre (documento em anexo), função que exerci desde 13 de fevereiro de 2019, por indicação do MDB de Porto Alegre. Lembrando que contribuí pecuniariamente, desde a minha nomeação, naquele fevereiro de 2019, com essa agremiação partidária.
É evidente que o governante eleito possui total legitimidade para fazer nomeações/exonerações. Entretanto, não tem o direito de desconsiderar pessoas. Por óbvio, o Prefeito eleito não tinha obrigação de me manter no cargo, mas tinha o dever de informar que me exoneraria. Não fosse pelo respeito à pessoa, no mínimo, por consideração a uma colega de partido. Minha leitura foi que para o MDB as pessoas são descartáveis e as mulheres possuem “prazo de validade”.
Pergunto: não seria digno o governante eleito, meu então colega de partido, ter ao menos me telefonado para comunicar a decisão de me exonerar?
Afirmo que tenho orgulho da minha trajetória. Fui Secretária Estadual de Educação, por duas vezes, Deputada Estadual, Conselheira de Conselhos de Educação, nos três níveis, dentre outras atividades ligadas à temática que me dedico. Não são atitudes como as que aqui estou a relatar que vão rasgar a minha história. Estudo diariamente e tenho a certeza que ainda tenho muito a contribuir. Mas o MDB entende diferente...
Que saudade quando as práticas e a ética de Políticos e Gestores como Pedro Simon, Antônio Britto, Hilda de Souza, Ruy Carlos Ostermann, bem como os saudosos Bernardo de Souza, Sinval Guazzelli, Ibsen Pinheiro, Mendes Ribeiro Filho e Cézar Busatto estavam entranhadas na base partidária.
Saio do MDB desiludida, mas de cabeça erguida, para seguir firme e forte, pois minha luta diária é a Educação Pública de Qualidade.
A Educação corre nas minhas veias e o MDB jamais vai matar isso!
Porto Alegre, 4 de janeiro de 2021.
Iara Sílvia Lucas Wortmann”