Recuperar os atrasos da pandemia, retomar as aulas presenciais, fortalecer parcerias público-privadas na Educação Infantil e Fundamental e instaurar o diálogo com sindicatos de professores são algumas das missões de Janaina Audino, a nova secretária de Educação de Porto Alegre, que assume na gestão do prefeito Sebastião Melo (MDB).
Em entrevista de meia hora à Rádio Gaúcha na manhã de Natal (25), a nova secretária, pedagoga formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e doutora em Educação pela Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), expôs seus objetivos para a capital gaúcha. Leia a seguir:
Por onde começar a tratar a educação em Porto Alegre ? Qual sua maior preocupação em assumir a pasta?
A educação vem sofrendo, principalmente no cenário de pandemia. Todos perdemos como sociedade com o afastamento do ensino presencial. Quando enxergamos o cenário brasileiro, o principal desafio é a aprendizagem dos alunos. A gente precisa ter o cuidado de ter uma melhor aprendizagem em língua portuguesa e língua matemática, que os indicadores educacionais nos mostram que precisamos melhorar. Mas destaquei três pontos que queria conversar. A gente tem o objetivo de entender a rede em uma pandemia: o distanciamento social nos afeta no processo de ensino-aprendizagem, professores tiveram que migrar para o ensino online do dia pra noite, e os alunos nós sabemos que têm dificuldades de acesso a equipamentos.
Um segundo ponto é o fechamento do ano letivo de 2020, que está em vigor, apesar de as escolas estarem em recesso. Precisamos fechar o ano, e esse fechamento está sendo analisado com muito cuidado. Temos o compromisso de abrir o diálogo com diretores e professores para entender como foi este ano. E um terceiro ponto: nosso compromisso agora é organizar uma estrutura de gestão que seja funcional a ponto de assessorar as escolas. Sabemos das demandas e dos desafios, mas quem opera a política pública são as escolas. Temos contextos diferentes: falamos de uma rede de 99 escolas de de Educação Infantil e Fundamental, mas são bairros e culturas diferentes que precisamos entender.
A senhora acredita que a retomada aula presencial é fundamental para o ano letivo?
Sem dúvida, precisamos retomar as aulas presenciais, mas com todo o cuidado de entender as condições desse retorno. Alguns lugares têm dificuldade de acesso a equipamentos. Retomar a aula presencial é fundamental, mas com todo o cuidado para entender o lado dos professores, porque muitas escolas não abriram por ter muitos professores nos grupos de risco.
Uma justificativa dada para o baixo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) das escolas de Porto Alegre é que os professores têm salários melhores do que outras redes, mas que as crianças não aprendem porque têm problemas estruturais nas famílias. Qual sua visão: toda criança é capaz de aprender ? E como suprir as dificuldades trazidas de casa?
Todas as crianças têm condições de aprender. Claro que algumas têm mais oportunidades do que outras, mas todas têm condições. O Ideb é uma avaliação de dois em dois anos que é fundamental. Ele é composto pela Prova Brasil, uma prova externa, e pela taxa de aprovação de cada escola. Na rede municipal, 14% dos alunos são reprovados, mas nessa taxa entram muitos que abandonaram a escola. Vamos trabalhar com diretores para mapear quem são os alunos em potencial abandono e que precisam ser resgatados. Quando não resgatamos, eles incham nossa taxa de reprovação. Sobre o Ideb, não temos resultados a nível Brasil comparado a dos piores (municípios), mas temos alta taxa de reprovação.
Como pacificar relações entre prefeitura e entidades representativas dos professores?
Precisamos abrir um canal de diálogo. Minha formação é pautada nessa experiência. A gente precisa conversar. Temos um limite que é a legislação, às vezes esbarramos em legislação e não podemos fazer tudo o que gostaríamos de fazer. Vamos chamar todos os setores para discutir e juntos propor soluções. Precisamos também nos abrir para o novo, a pandemia nos mostrou novos caminhos, a educação a distancia, vamos ter que nos adaptar para alguns contextos.
Nessa abertura pra o novo, tu tiveste a experiência de trabalhar por 10 anos no Instituto Jama, uma entidade sem fins lucrativos que trabalha com inovação na educação. O que é possível de fazer de inovação nas escolas?
Existem vários carinhos para inovar quanto a plataforma, formação de professores e aprendizagem dos alunos. Temos que explorar o que já acontece no Brasil, não precisamos inventar a roda. Um dos nossos pontos: a formação continuada dos professores é essencial. Que processos formativos podemos buscar para olhar esses novos modelos de educação? Talvez buscar trabalhar as habilidades de gestores, porque hoje são professores que aprendem na prática a fazer prestação de contas, organizar o quadro de horários. Talvez fazer parcerias com universidades. E ver dentro das nossas escolas também, o projeto de robótica, de xadrez… Precisamos valorizar o que professores já fazem nas escolas e dar um pouco mais de voz.
A Educação Infantil tem muitas entidades conveniadas que prestam serviço à prefeitura. A gestão Marchezan começou (a estender) para o Ensino Fundamental. Qual a visão da senhora sobre a possibilidade de instituições do terceiro setor e organizações sociais assumirem a prestação de serviços para crianças do Fundamental?
Não vou usar a palavra assumir. As parcerias são bem-vindas. Sabemos as dificuldades do setor público em dar conta de todos os desafios. Existem locais que precisam de mais vagas, e vamos atrás de entender se é ampliação de escolas ou compra de vagas. Mas as parcerias público-privadas são bem-vindas para ter resultados mais imediatos.
Quem é Janaina Audino
Pedagoga formada pela PUCRS, especialista em gestão escolar pela ESPM, mestre em gestão educacional e doutora em Educação pela Unisinos. Atualmente, é aluna do MBA em Gestão, Humanismo e Inovação da Sonata Brasil. Trabalhou na Secretaria de Estado da Educação do RS, na Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho, do Grupo RBS, e no Instituto Jama. Com mais de 15 anos de experiência na área, atua como consultora em instituições públicas e privadas, contribuindo na gestão, na construção, no desenvolvimento e no acompanhamento de projetos.