Em geral, considerando o desempenho das redes pública e privada, o ensino gaúcho superou a média brasileira nos anos iniciais do Ensino Fundamental, teve a mesma média nacional nas escolas de Ensino Médio e ficou abaixo do resultado brasileiro nos anos finais do Ensino Fundamental no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2019, divulgado na terça-feira (15) pelo Ministério da Educação (MEC).
Foi um desempenho intermediário para o Rio Grande do Sul, se comparado com o do restante do Brasil. Mas há vários exemplos positivos no Estado.
No Ensino Fundamental, o grande destaque é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Santa Cruz, em Farroupilha, na Serra, que obteve o maior índice tanto nos anos iniciais (1º ao 5º ano) quanto nos finais (6º ao 9º ano). A diretora da Santa Cruz, Veridiana Brustolin, explica que há muito cuidado com a preparação dos estudantes, desde a educação infantil até o 9° ano do Ensino Fundamental. Para ela, os resultados são fruto de boa gestão, planejamento, metas claras e muito envolvimento de professores, alunos e famílias.
— Nossa escola vem alcançando, desde 2009, bons resultados, que nos enchem de orgulho e de gratidão e nos fazem acreditar que é possível, sim, acreditarmos na educação pública de qualidade. Sabemos que os resultados em educação são lentos. Eles acontecem por meio de muito trabalho em equipe: gestão, professores, funcionários, alunos e famílias, todos olhando na mesma direção — define Veridiana.
Farroupilha, aliás, é presença frequente nessas listas: aparece com escolas entre as 10 melhores desde o início do Ensino Fundamental até o final do Ensino Médio. O secretário de Educação do município, Vinícius Grazziotin De Cezaro, concorda com Veridiana ao explicar que este é sempre um trabalho feito a muitas mãos, e só o bom esforço coletivo pode levar a resultados satisfatórios.
O que é o jornalismo de soluções, presente nesta reportagem
É uma prática jornalística que abre espaço para o debate de saídas para problemas relevantes, com diferentes visões e aprofundamento dos temas. A ideia é, mais do que apresentar o assunto, focar na resolução das questões, visando ao desenvolvimento da sociedade.
— É uma rede que há muito tempo trabalha com a valorização dos profissionais, com formação continuada dos professores, com espírito de liderança e de colaboração. Mesmo agora, na pandemia, temos fortalecido esse espírito de comunidade, de conversa. Temos uma série de projetos interdisciplinares, interação com muitos parceiros que trazem um conhecimento fantástico para a rede — declara o secretário.
Pequenas notáveis
Na pequena Dois Lajeados, cidade com 3,4 mil habitantes no Norte, o Colégio Estadual Vicente de Carvalho tirou 8,1 no Ideb dos anos iniciais do Ensino Fundamental. A diretora Lisandra Coser Baggio diz que é a segunda vez que a escola vai bem, e credita o resultado ao esforço da comunidade escolar, ao desempenho dos alunos, à estrutura da instituição e às turmas pequenas – a nota alta saiu de uma turma de 15 alunos.
A gente trabalha com o lado humano, a preocupação de não só passar conteúdos, mas de valores também
LISANDRA COSER BAGGIO
Diretora de escola em Dois Lajeados
— Não sei se é por ser um município pequeno onde todo mundo se conhece, mas a gente trabalha com o lado humano, a preocupação de não só passar conteúdos, mas de valores também. Quase todos dessa turma estão conosco desde os primeiros anos. Nossa estrutura é boa, também, temos ginásio, biblioteca e laboratório de ciências. É um trabalho conjunto — afirma Lisandra.
Outra instituição que chama atenção pelo desempenho nos anos iniciais do Fundamental é a Escola Estadual de Educação Básica Leopoldo Meinen, que atende 330 alunos de Fortaleza dos Valos, uma cidade de 4,2 mil habitantes no Noroeste do Estado.
A diretora, Lisiane Rubin, explica que é uma das duas únicas instituições de ensino da cidade. Como não há colégio particular, alunos de alta e baixa renda dividem as classes – e a condição familiar dos estudantes contribui para o bom desempenho no Ideb. A união da comunidade também traz um senso de "aldeia", com pais que organizam eventos sociais para juntar dinheiro – com valores arrecadados, já deu para pintar a escola e reformar o laboratório de ciências.
— É uma soma de fatores esse resultado. Pais, alunos, professores e equipe diretiva contribuíram. Essa turma que foi bem é muito dedicada. Tenho alunos com estrutura familiar muito boa. A realidade familiar com certeza ajudou, mas os pais como um todo são muito envolvidos, as reuniões pedagógicas sempre têm alta participação. É o primeiro ano em que nos destacamos com nota tão boa, estamos muito felizes — comenta.
Nossos professores têm ótima qualificação, oferecemos formação continuada no município
MÁRCIA ECKERT
Secretária municipal de Educação, Cultura, Turismo, Esporte e Lazer de Salvador do Sul
Uma escola municipal de 180 alunos de Salvador do Sul, cidade de 7,9 mil pessoas no Vale do Taquari, figura entre as melhores dos anos finais do Fundamental. A Santo Inácio de Loyola ficou com 6,7 no Ideb, e o bom desempenho pode ser explicado pela atividades no turno inverso e pela formação continuada dos professores, segundo a secretária municipal de Educação, Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Márcia Eckert.
A instituição tem notebook e televisão em todas as salas de aula, segundo a secretária. Há ainda biblioteca e laboratório de informática, mas não de ciências. É a primeira vez que a cidade figura com tamanho destaque na avaliação.
— Os estudantes, além de terem aulas normais, ficam no contraturno na escola, aí fazem escolinha de futebol, dança, teatro e coral. E nossos professores têm ótima qualificação, oferecemos formação continuada no município. Há cursos sobre uso de tecnologias em salas de aula, por exemplo — diz Márcia.
Destaques no Ensino Médio
Já no Ensino Médio, destaque para os colégios Tiradentes da Brigada Militar, que aparecem em seis dos 10 primeiros lugares. O topo ficou com a unidade de Ijuí, única escola do Rio Grande do Sul a atingir índice superior a 7 no Ideb 2019. A qualidade do Ensino Médio nos colégios Tiradentes já havia despontado em outro levantamento, que apontou as escolas gaúchas com maiores médias no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). A exigência de um minivestibular para entrar – portanto, com seleção de estudantes – e a melhor condição financeira das famílias são algumas causas apontadas por educadores para explicar por que os colégios Tiradentes se saíram bem na avaliação.
Os alunos vão bem porque estudam para isso, não esperam que os professores façam por eles. É uma cultura de busca que a gente criou na fundação há mais de 30 anos
RAMON FERNANDO HANS
Diretor-executivo da Fundação Liberato
Outros destaques no Ensino Médio também são parte da rede federal: o Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) no campus de Farroupilha e o Instituto Federal Farroupilha no Campus Santa Rosa, ambos também contando com processo seletivo. Entre as 10 instituições de educação com as melhores notas no Ensino Médio pelo Ideb, aparece ainda a Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha. Para o diretor-executivo da Fundação Liberato, Ramon Fernando Hans, contribui para a boa colocação o incentivo que a escola dá à autonomia do estudante.
— Há alguns fatores que trabalhamos muito na escola. Um é a questão da pesquisa, que a gente incentiva muito nossos alunos a fazerem, a seguirem a metodologia científica, o que faz com que eles aprendam a estudar sozinhos. Que busquem, se motivem, sejam proativos. Em todos os eventos que fazemos, da feira de ciências ao hackaton até as seleções de que eles participam, os alunos vão bem porque estudam para isso, não esperam que os professores façam por eles. É uma cultura de busca que a gente criou na fundação há mais de 30 anos — garante Hans.
Nesta edição do Ideb, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) aplicou apenas testes amostrais na rede privada, o que inviabilizou a divulgação de conceitos individuais para cada escola. O que se obteve das escolas particulares, assim, foi só o índice geral, como uma média de todas, e não o desempenho de cada uma, como foi possível aferir na edição anterior do levantamento.