Se os 136.063 eleitores que digitaram 45 na urna eletrônica no último domingo (15) esperam um sinal do prefeito Nelson Marchezan sobre quem escolher no segundo turno, não terão. Marchezan divulgou nota no final da tarde desta terça-feira (17) informando que ficará neutro. A nota é longa, mas termina com a garantia de que não apoiará nem Sebastião Melo (MDB) nem Manuela D’Ávila (PCdoB):
“E é como este prefeito de todos que, neste segundo turno, deixo de ter voz como candidato, deixo para trás a eleição, deixo o processo eleitoral nas mãos dos eleitores e dos partidos, e continuo a dar minha contribuição para a minha cidade governando sem olhar ideologias, partidos, eleição ou disputa do poder a qualquer custo.
Tenho uma prefeitura para administrar, uma pandemia para monitorar e uma cidade para cuidar. E como sempre disse, e fiz, tudo isso está acima de uma eleição. É por isso que, neste segundo turno, não apoiarei pessoalmente nenhum candidato, garantindo uma transição transparente, democrática e republicana”.
Além de ter sido atacado por Manuela e Melo na campanha do primeiro turno, Marchezan não perdoa os vereadores aliados dos dois candidatos, que votaram a favor do processo de impeachment contra ele na Câmara de Vereadores.
Em outro trecho da nota, o prefeito diz: “Com tudo isso, encerrado o processo eleitoral, a população de Porto Alegre decidiu que o segundo turno deveria ser disputado por dois projetos de confronto ao atual modelo de gestão da prefeitura de Porto Alegre, que orgulhosamente represento”.
Nas primeiras entrevistas depois de classificados para o segundo turno, Melo e Manuela abrandaram o tom das críticas a Marchezan, de olho no seu espólio. Quem acompanhou as primeiras entrevistas dos dois ficou com a sensação de que, em 48 horas, a visão de ambos sobre a gestão do prefeito melhorou.
Nem Melo nem Manuela manifestaram disposição de procurar o prefeito para pedir apoio, mas expressaram o desejo de contar com os votos dos mais de 130 mil eleitores que colocaram o tucano em terceiro lugar na disputa.
A manifestação de Marchezan não significa que o PSDB ficará neutro. Os vereadores, a executiva municipal e os primeiros suplentes se reúnem nesta quarta-feira (18) para definir se o partido assumirá posição favorável a Melo, já que o MDB é aliado do governo Eduardo Leite no Estado, ou se também adotará a neutralidade. O apoio a Manuela está descartado, por divergências ideológicas.
A tendência é de apoio Melo, desde que se comprometa com a continuidade de alguns projetos de Marchezan e com pautas da bancada tucana na Câmara.
Confira a íntegra da nota de Marchezan
"NOTA SOBRE APOIO NO SEGUNDO TURNO
Durante quatro anos, fui prefeito de Porto Alegre olhando, pensando e fazendo exclusivamente aquilo que entendi ser o melhor pra cidade. Jamais deixei que sindicatos, partidos, corporações, interesses particulares ou privados ficassem acima do interesse público. Enfrentei a corrupção e a velha política com ética, coragem e responsabilidade com o futuro. E paguei o preço desta escolha com incompreensões, desgastes, perseguições políticas e agressões pessoais, a mim e à minha família.
Foi assim, também, na eleição. Não agi, em momento algum, visando benefício eleitoral, seja na campanha ou nas decisões administrativas que, porventura, pudessem ter impacto, repercussão ou influência na avaliação dos eleitores. Enfrentei um processo de impeachment sem que eu tivesse cometido qualquer ilegalidade, uma CPI arbitrária e politiqueira, uma campanha agressiva de todos os adversários e uma renúncia improvável com motivações, no mínimo, questionáveis. Mas a incompreensão e a injustiça que sofri não são maiores do que o senso de dever cumprido. Certamente cometi erros e deixei de construir pontes que poderiam ter aliviado o caminho.
Mas tenho clareza de que os acertos são muitos, e que os desvios não me levariam a um lugar melhor do que aquele que estou hoje com minha consciência e o legado que a cidade, um dia, reconhecerá.
Com tudo isso, encerrado o processo eleitoral, a população de Porto Alegre decidiu que o segundo turno deveria ser disputado por dois projetos de confronto ao atual modelo de gestão da prefeitura de Porto Alegre, que orgulhosamente represento.
Sendo assim, desde o dia 16 de novembro último, após o resultado do 1º turno, deixei de ser um prefeito candidato à reeleição para ser, novamente, apenas o prefeito de Porto Alegre, cargo que exercerei com a mesma responsabilidade, carinho e zelo até o último dia do mandato. E sou, neste cargo, prefeito de todos os porto-alegrenses, e não apenas daqueles que votaram em mim. Sou o prefeito dos eleitores de todos os candidatos, e também daqueles que se abstiveram, ou votaram branco e nulo.
E é como este prefeito de todos que, neste segundo turno, deixo de ter voz como candidato, deixo para trás a eleição, deixo o processo eleitoral nas mãos dos eleitores e dos partidos, e continuo a dar minha contribuição para a minha cidade governando sem olhar ideologias, partidos, eleição ou disputa do poder a qualquer custo.
Tenho uma prefeitura pra administrar, uma pandemia para monitorar e uma cidade para cuidar. E como sempre disse, e fiz, tudo isso está acima de uma eleição.
É por isso que, neste segundo turno, não apoiarei pessoalmente nenhum candidato, garantindo uma transição transparente, democrática e republicana.
Muito obrigado”