Nelson Marchezan (PSDB) apostou tudo na eleição e ficou para trás ainda no primeiro turno. Apesar disso, não pode ser considerado um perdedor, pois ainda assim fez votação considerável. Aliás, é até provável que se José Fortunati tivesse ficado na disputa, Marchezan poderia ter ido para o segundo turno.
Não é só a desistência de Fortunati (PTB) que explica o insucesso da campanha tucana, mas é uma das explicações. Marchezan fez 21% dos votos, 10 pontos a menos do que Sebastião Melo (MDB) . Fortunati, na última pesquisa, aparecia com 14%.
Há um conjunto de fatores que ajudam a entender a derrota de Marchezan. Primeiro, o prefeito teve de dividir atenção entre a campanha, o enfrentamento à pandemia e um processo de impeachment, que drenou as energias durante mais de dois meses. A pandemia trouxe o desgaste natural das críticas ao modelo adotado pela prefeitura do "abre e fecha" – embora o prefeito tenha o que mostrar: nenhum paciente com coronavírus morreu por falta de leito em Porto Alegre.
Pesou mais contra o atual prefeito a boataria que se espalhou em Porto Alegre de que, passada a eleição, ele iria promover novo fechamento da cidade. Isso não procede, mas ganhou fôlego com a bandeira vermelha do modelo de distanciamento controlado a dois dias da eleição – episódio que escancarou publicamente a contrariedade de Marchezan com o modelo do governador Eduardo Leite.
Durante toda a campanha, os opositores, antes aliados, bateram na tecla do perfil desagregador do prefeito. Colou. Não por nada, pois o prefeito mais derrubou do que construiu pontes nestes quatro anos. O impeachment só prosperou porque viu seu apoio desidratar ao longo dos últimos dois anos na Câmara de Vereadores.
Quando questionado, Marchezan costumava responder que brigou por ser firme na defesa das suas ideias e que tirou Porto Alegre das páginas policiais – uma crítica clara a MDB, PP e PTB. Mas muito porque Marchezan, embora aliado a PL e PSL, estava isolado das forças tradicionais da política que o ajudaram a se eleger quatro anos atrás.
Por fim, isso até o prefeito admite: os eleitores não perceberam as mudanças que as principais realizações do mandato deixaram como legado. Prova disso é que Marchezan não chegou na frente em nenhuma das 10 zonas eleitorais, ao contrário de 2016 quando, no primeiro turno, venceu em seis.