Um debate eleitoral com candidatos no rádio não é como as outras transmissões que fazemos diariamente. Para os veículos de comunicação eletrônica (rádio e TV), existe uma lei eleitoral bastante rigorosa que garante equilíbrio de espaços entre os concorrentes.
Organizar um debate começa por convocar formalmente os representantes de campanhas de partidos que tenham representação na Câmara dos Deputados (cinco eleitos) para uma reunião onde é sugerido um roteiro, com espaços e tempos iguais para os candidatos fazerem manifestações, perguntas, réplicas e tréplicas. Todos precisam ser convidados, não podemos escolher deixar alguém de fora.
Se todos concordarem com o formato, é redigido um documento detalhando o que foi acordado, assinado pelas campanhas e registrado perante a Justiça Eleitoral. Como âncora dos debates da Gaúcha, o trecho da peça que sempre memorizo é o intitulado "Das Atribuições do Mediador".
Tudo o que o mediador faz na interação com os candidatos precisa estar escrito ali. Se sair do script, o candidato pode alegar na Justiça Eleitoral que o debate não respeitou as regras. É uma relação sempre delicada, que exige muito cuidado. Por isso, o mediador não pode simplesmente interromper um candidato no espaço que é reservado a ele.
Você não imagina a ansiedade que isso me provoca. Todos os dias, durante duas horas no Gaúcha Atualidade, entrevisto pessoas sobre os mais diversos assuntos e, não raro, tenho que fazer intervenções para detalhar algo que pode ser melhor explicado. Presto atenção em cada palavra, pensando que aquilo precisa estar claro para o ouvinte.
Então, imagine agora a minha decepção quando um candidato, durante o debate, usa o seu tempo para ofender o rival. É uma decepção como jornalista e como eleitor. Toda aquela combinação, organização, protocolo, cuidado com o formato e as regras, e o candidato desperdiça o tempo com ataques pessoais. É frustrante.
O que cabe ao mediador é lembrar que o debate é para discutir ideias, projetos e intenções num futuro governo. Ao rival, há a possibilidade de pedido de direito de resposta, o que foi concedido em duas oportunidades. Explico tudo isso para esclarecer dúvidas que surgiram a partir dos ataques condenáveis do candidato Rodrigo Maroni (PROS) contra Manuela D'Ávila (PCdoB).
Com tom claramente machista, os comentários fugiram do ambiente crítico e propositivo que esperamos do debate. Passaram dos limites e me constrangeram como mediador. Não é a defesa de uma candidata, é por qualquer pessoa que merece respeito, mesmo sob ambiente de divergências ideológicas, ainda mais as mulheres que historicamente são alvo de machismo no ambiente político.