Reza o dito popular que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. No governo do presidente Jair Bolsonaro, é “simples assim: um manda e o outro obedece”. Foi com essas palavras que o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, pôs fim à dúvida sobre sua permanência no governo, depois de ter sido desautorizado por Bolsonaro em relação à anunciada compra de 46 milhões de doses da vacina chinesa Coronavac, que será fabricada pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório Sinovac.
A live de quatro minutos e 28 segundos é antológica. Bolsonaro aproveitou para fazer propaganda do chamado kit covid e entrevistou Pazuello, diagnosticado na terça-feira (20) à noite, depois de sentir cansaço e outros sintomas. O presidente foi visitar o subordinado e disse esperar que na próxima semana ele esteja de volta.
A live começa com Bolsonaro dizendo que foi visitar o ministro em sua casa. Ele aparece de terno e gravata, Pazuello de camiseta. O diálogo inicial é revelador da obsessão presidencial pela hidroxicloroquina:
— Como o foi o primeiro sintoma teu, ô Pazuello?
— Olha, cansaço. Domingo à tarde eu senti um pouco de cansaço. Segunda-feira fui trabalhar, mas quando foi 17h eu estava indo para aquele evento do Marcos Pontes (ministro da Ciência e Tecnologia) da Anitta, ali eu estava bem cansado e vim pro hotel. Aí, segunda à noite difícil. Dor de cabeça, enxaqueca, e um pouquinho de febre. Na terça-feira, durante o dia eu dei uma piorada e na terça à noite fui no HFA (Hospital das Forças Armadas) fazer os exames. Tirei sangue e o PCR. Fui diagnosticado que tô com covid na terça à noite.
— O senhor começou a tomar o que?
— Na terça mesmo comecei a tomar hidroxicloroquina, Anitta e azitromincina na quarta-feira.
— Tomou logo o kit completo?
— O kit completo.
— Na terça-feira à noite? E na quarta-feira, como é que foi?
— Na quarta feira acordei melhor um pouquinho. Fiz a fisioterapia de respiração, o médico acompanhando, sempre com acompanhamento médico.
— Hoje é quinta. Como você tá?
— Acordei zero bala.
— Zero bala? Então, aqui mais um caso concreto em que hidroxicloroquina, azitromicina e Anitta deu certo. Mais um que deu certo.
Na sequência da conversa, Bolsonaro menciona que os críticos dizem que a cloroquina não tem comprovação científica.
— Não tem para a covid, mas tem para outras coisas. E não tem efeito colateral (os estudos científicos indicam que o medicamento funciona para malária, por exemplo, mas tem efeitos colaterais, entre os quais a taquicardia).
A conversa amistosa terminou com declarações de afeto e intimidade _ "tamo junto", "a gente tem um carinho", "tá pintando um clima" e "Valeu, Pazuca".
O mesmo Bolsonaro que, pela manhã, levantou suspeitas sobre a credibilidade da Coronavac, que está em fase final de testes, como outras vacinas, não hesita em recomendar um medicamento que não tem eficiência comprovada.
Em entrevista à Rádio Jovem Pan, disse que suspendeu o protocolo de intenções por “já existe um descrédito muito grande por parte da população”. Por “ população” entenda-se aqui seus seguidores na internet, já que nenhuma instituição séria levantou suspeitas sobre a vacina.
O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, disse que, se todas as etapas forem cumpridas, a agência fará o registro da Coronavac sem levar em conta o país de origem. Lembrou que a China produz outras vacinas e é uma das principais fornecedoras de insumos para a indústria farmacêutica.
Bolsonaro afirmou que não tomará a vacina:
— Eu não tomo a vacina. Não interessa se tem uma ordem, seja de quem for, aqui no Brasil para tomar a vacina. Eu não vou tomar a vacina.
A conversa amistosa terminou com declarações de afeto e intimidade, com expressões como: "tamo junto", "a gente tem um carinho", "tá pintando um clima" e "Valeu, Pazuca".
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