A saída do procurador Deltan Dallaganol do comando da força-tarefa da Operação Lava-Jato em Curitiba, depois de seis anos, é o último ato de um processo de esvaziamento que começou com a saída do juiz Sergio Moro, em novembro de 2018, para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Ali começou a morrer a maior operação de combate à corrupção do Brasil, com suas virtudes e defeitos.
Entre um episódio e outro, passaram-se 21 meses e 15 dias, período em que a Lava-Jato perdeu muito da musculatura e parte da credibilidade. A saída de Moro foi o primeiro golpe na imagem. Afinal, o justiceiro que desbaratou o escândalo do petróleo e colocou na cadeia o ex-presidente Lula, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, ex-ministros, políticos de menor expressão e empresários do porte de Marcelo Odebrecht, trocava a toga por um cargo político. Não um cargo qualquer, mas o de um dos homens fortes do principal beneficiário da exclusão de Lula da lista de candidatos de 2018.
Enquanto Moro tentava se equilibrar na corda bamba de um governo que não lhe dava respaldo, a Lava-Jato sofria com a fadiga dos metais e a corrosão provocada por seus próprios integrantes.
Os furos apontados pelo site The Intercept Brasil ao longo de 2019 só não abalaram mais a estrutura da operação porque a vinculação de seus fundadores com a esquerda e o fato de as informações comprometedoras terem sido obtidas pela ação de hackers tiraram força do conteúdo. No mérito, as mensagens trocadas pelos procuradores entre si e com o próprio Moro mostraram que em diferentes momentos os integrantes da força-tarefa avançaram o sinal, atropelaram a lei e tiveram atuação política.
Magoada com a forma como Moro deixou o governo, atirando em Bolsonaro, a deputada bolsonarista Carla Zambelli endossou as acusações feitas pelo PT ao longo da existência da Lava-Jato: a de que a força-tarefa protegia os figurões do PSDB. Não por acaso, investigações envolvendo tucanos da plumagem de José Serra e Geraldo Alckmin começaram a andar. Sinais de novos tempos.
Desde que Augusto Aras assumiu a Procuradoria-Geral da República, ficou claro que a Lava-Jato na forma como o Brasil conheceu estava com os dias contados. Aras começou a desmontar o feudo solidamente construído em Curitiba, promoveu uma intervenção branca e Deltan ficou sem clima para continuar no topo da pirâmide construída em seis anos. A gota d’água foi o questionamento de sua atuação no Conselho Nacional do Ministério Público, do qual saiu absolvido, mas chamuscado.
Assim como Sergio Moro, amigo e companheiro dos tempos de glória da Lava-Jato, Deltan tem potencial para largar a estabilidade da carreira de servidores público e se se aventurar na política. No Paraná, não lhe faltarão eleitores se quiser ser deputado federal ou mesmo senador.
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