O procurador da República Deltan Dallagnol está deixando a força-tarefa da Operação Lava-Jato no Paraná, chefiada por ele desde 2014. O motivo é cuidar da saúde de uma filha.
Compreensível, mas outros fatores se somam a esse. Não por acaso, Dallagnol está sob fogo-cerrado de sua própria chefia. No caso, a Procuradoria-Geral da República, que tem falado em trocar a equipe da força-tarefa da Lava-Jato sediada em Curitiba. A decisão do procurador-geral, Augusto Aras, deve sair até segunda-feira.
Ele pode também simplesmente acabar com a versão curitibana e matriz da Lava-Jato e deixar que investigações similares sejam feitas pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco). Seria uma maneira de despolitizar a maior operação contra a corrupção já realizada no Brasil.
Fontes consultadas por este colunista indicam que Aras se inclina pela moderação: manter a Lava-Jato, só que sob rédea curta. Quem vai assumir a chefia da força-tarefa em Curitiba é o procurador Alessandro José Fernandes de Oliveira, que trabalha na sede da PGR, em Brasília.
Com a tentativa de saída honrosa de Dallagnol, a Lava-Jato perde suas duas maiores estrelas. De um lado, o organizador das 70 operações realizadas desde 2014. De outro, já ocorreu a saída do responsável-mor pelas 175 condenações de réus, Sergio Moro.
O procurador e o juiz tiveram a imagem abalada após divulgação de mensagens de aplicativos telefônicos nas quais combinam as melhores táticas para conseguir condenações. Intimidade essa questionada pelos advogados de réus, que buscam anular as sentenças judiciais.
A dupla colecionou inimigos à esquerda e à direita. A diferença é que Moro saiu por vontade (os adversários deles dizem que a palavra que melhor define é vaidade) própria, para se dedicar a uma missão política.
É provável que a saída do chefe da força-tarefa seja o princípio de um desmonte de equipe. Dallagnol deixa a imagem de principal responsável por acordos que resultaram em R$ 4 bilhões devolvidos aos cofres públicos por delatores. No total, incluindo multas, estão assinados documentos que preveem recuperação de R$ 14,3 bilhões. Nada mal para uma operação que começou com ambições regionais, a perseguição a um doleiro paranaense.