O procurador-geral da República, Augusto Aras, nunca foi fã de Lava-Jato, bem se sabe. Mas nas últimas semanas, fez corar até Romero-Jucá-com-o-Supremo-com-tudo ao enviar representantes para coletar dados junto às forças-tarefa da operação e gritar em alto e bom som que há uma "caixa de segredos" envolvendo o grupo chefiado pelo procurador Deltan Dallagnol. Grupo este que, aliás, colocou alguns dos principais políticos e empresários atrás das grades no Brasil.
Os procuradores reagiram em nota divulgada nesta quarta-feira (29). No texto, repudiaram as críticas proferidas pelo PGR e negaram a existência de "segredos" nas investigações.
Mas o que explica a postura escancarada de Aras a esta altura do campeonato?
Há quem aposte em movimento de quem "joga para a torcida". Ao disparar contra a força-tarefa, o procurador ganha para si o apoio da classe política, que tem motivos de sobra para querer enfraquecer o trabalho dos investigadores. Não é de hoje que tramitam no Congresso iniciativas para diminuir poderes dos que agem contra as redes de corrupção. Em especia quando os alvos são agentes influentes no cenário nacional. Basta lembrar o esforço para aprovar a a Lei de Abuso de Autoridade.
Ocorre que o capitão que ocupa a Presidência da República se elegeu prometendo "acabar com isso daí" e como prova de seu comprometimento quanto ao combate à corrupção nomeou o juiz responsável pela Lava-Jato como seu ministro da Justiça. "Moro terá carta branca", prometeu. Vaidoso, Moro pediu exoneração da magistratura e desembarcou em Brasília crente de que estava diante da chance de mudar as engrenagens do sistema.
Na primeira oportunidade, Bolsonaro arrancou o Coaf das mãos do pupilo. Pouco tempo depois, tentou interferir na Polícia Federal.
Aras não é ingênuo. Em pouco tempo, entendeu o time que joga. Não à toa, Bolsonaro e os filhos não deram um piu sequer até aqui sobre as críticas ao trabalho de Curitiba. Quanto a Moro, houve bolsonarista que o chamou de ingrato e acusou o ex-ministro até mesmo de "perseguir o PT".
Acrescente ao cozido, que ferve nos bastidores, um presidente que distribui cargos para o centrão em troca de apoio político, num movimento clássico de sobrevivência quando as investigações passaram a avançar sobre sua família e o ex-assessor Fabrício Queiroz. Para finalizar, um tempero especial: em novembro, o presidente indicará um novo ministro para o Supremo Tribunal Federal. Aras, este mesmo citado acima, é candidatíssimo. Deixe mais alguns minutos no fogo. Bom apetite.