Para enfrentar a maratona de reuniões virtuais desta sexta-feira (7), com representantes de todos os setores da economia, o prefeito Nelson Marchezan se instalou no Centro Integrado de Controle, no bairro Azenha, sem saber quando voltaria para casa. De hora em hora, mudava o grupo de interlocutores: construção civil, imobiliárias, bares e restaurantes, supermercados, academias, shopping centers e, por fim, os representantes de cada área na mesma videoconferência.
Jornalistas de diferentes veículos foram convidados a assistir às reuniões virtuais e testemunharam momentos de tensão e descontração, com Marchezan seguindo o mesmo roteiro. Começava pela apresentação dos números que mostram a evolução da pandemia e terminava pedindo que os empresários se manifestassem. Nas últimas, dizia que já não aguentava ouvir a própria voz repetindo o mesmo texto.
Foram mais de 10 horas de conversas com empresários até a reunião do comitê de crise para definir os termos do decreto que vai regrar as atividades na próxima semana e que até às 21h30min não tinha sido liberado. Aos que questionavam a que hora sairia o decreto, o prefeito respondia que podia ser “hoje à noite ou amanhã”.
Com a perspectiva de reabertura depois da autorização excepcional de funcionamento de sexta-feira a domingo (9), o clima ficou menos tenso do que nos dias anteriores, mas não faltaram cobranças. De um modo geral, foram reuniões respeitosas, bem diferentes do tom agressivo das redes sociais. A mais difícil foi com os representantes do setor de bares e restaurantes, inconformados com as indefinições e com o fato de não terem sido autorizados a funcionar no fim de semana do Dia dos Pais.
Os donos de supermercados, setor menos atingido pelas restrições, já que precisou apenas limitar o número de clientes nas lojas, tinha apenas uma demanda: que seja liberada toda a área de estacionamento. Hoje, as vagas são limitadas.
A cada um dos empresários Marchezan reafirmou que não teve apoio para adotar o modelo que considerava mais adequado, a abertura gradativa por 15 dias e o fechamento geral por sete, e avisou que, se após a liberação houver explosão da demanda por leitos de UTI, colocando em risco o atendimento da população, haverá novo fechamento.
Da derradeira reunião, às 18h, os líderes empresariais saíram sem saber exatamente quais serão as regras que terão de seguir, mas a maioria expressando satisfação com o andamento das negociações, elogiando a disposição do prefeito para o diálogo. O presidente do Sindha, Henry Chmelnitsk chegou a dizer que não entendia de onde os demais participantes da reunião tiravam tanto otimismo sem conhecer os termos do decreto. O encontro terminou com pedidos de desculpas pelo tom mais áspero dos últimos dias, desejo de que o prefeito “fique muito tempo nessa cadeira”, numa referência ao pedido de impeachment, votos de feliz Dia dos Pais e sugestão para descanse no fim de semana e brinque com o filho.
Houve espaço até para brincadeiras. Marchezan disse que esperava mesmo descansar no fim de semana:
— Ontem (quinta-feira), dormi no sofá com o Eduardo Oltramari (representante do setor de shopping centers) e hoje acordei com às 7h da manhã com o Paulo Kruse (presidente do Sindilojas).
A frase provocou gargalhadas. Oltramari, normalmente sério e objetivo nas perguntas, brincou:
— Para evitar qualquer mal-entendido, quero deixar claro que eu não dormi com o Marchezan.
O prefeito se referia, naturalmente, aos telefones que começam no início da manhã e só terminam tarde da noite, quando cai no sono.