O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Os gaúchos começaram esta quinta-feira (2) com um pronunciamento em tom de convocação do governador Eduardo Leite. Em pouco mais de sete minutos, Leite faz um apelo para que todos fiquem em casa e respeitem os protocolos sanitários nos próximos 15 dias, período considerado mais crítico na evolução da pandemia do coronavírus no Estado.
Com 636 óbitos por covid-19, o Rio Grande do Sul tem taxa de mortalidade cinco vezes inferior à média nacional. Ainda assim, a avaliação de Leite e de seu staff foi de que seria necessário um novo chamamento para alertar a população e, assim, conter a contaminação nas próximas duas semanas, época em que historicamente é registrado o pico da internação por síndromes respiratórias nos hospitais do Estado.
Gravado na noite de quarta-feira (1º) e divulgado nesta quinta, o vídeo foi discutido com assessores e produzido pela equipe da Secretaria de Comunicação, mas o tom da declaração foi escolhido pelo próprio governador, que revisa diariamente os relatórios com dados de internações e de evolução da pandemia no Estado.
A preocupação de Leite está respaldada em números. Conforme o último boletim divulgado pelo Comitê de Dados, produzido com informações da quarta-feira, o número de pacientes com casos confirmados de covid-19 internados em UTIs subiu de 284, em 24 de junho, para 383 uma semana depois — alta de 34,86% em uma semana. Na semana anterior, o crescimento havia sido de 20,85%.
Em sete dias, a proporção entre leitos de UTI livres para os ocupados por coronavírus caiu de 2,12 para 1,57. Ou seja: para cada vaga preenchida por paciente com confirmação de infecção por covid-19, há 1,5 leito livre. Na comparação com o início de junho, o índice caiu pela metade.
Contrastando com esses dados, a última atualização da pesquisa de prevalência de infecção por covid-19 no Rio Grande do Sul, conduzida pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), mostrou que a adesão ao distanciamento social diminuiu. Na primeira fase do levantamento, entre 11 e 13 de abril, 20,6% dos gaúchos, em média, saíam de casa diariamente. Na quinta fase, em que os dados foram colhidos entre os dias 26 e 28 de junho e divulgados na quarta-feira, esse número saltou para 32,7%.
No vídeo, o governador propôs uma espécie de “pacto” com os gaúchos, para evitar um risco que não foi citado abertamente, mas aparece nas projeções mais pessimistas: a possibilidade de um colapso no sistema de saúde, com a demanda por leitos de UTI maior do que a estrutura do Estado tem capacidade de atender.
Leite lembrou que o governo “não governa sozinho” e que precisa da conscientização e da participação de todos para fazer a travessia no momento mais duro da pandemia:
— Falta mais um pouco, é preciso força, portanto, logo chegará a hora de podermos matar a saudade dos abraços, mas ainda precisamos de mais cuidado e proteção. Especialmente nos próximos 15 dias, se puder, fique em casa.
Aliás
O deputado federal Osmar Terra (MDB), que já previu, sem sucesso, o fim da pandemia em maio, e depois em junho, não demorou a criticar o pronunciamento de Eduardo Leite. “A quarentena e o lockdown fracassaram no RS, fracassou em prevenir o surto da epidemia. Tem que mudar o discurso. Vamos substituir a quarentena pela testagem maciça da população, como fez a Coreia com muito sucesso!”, escreveu Terra, no Twitter.