Ainda que Fabrício Queiroz tivesse sido preso dentro da própria casa ou na orla de Copacabana, o presidente Jair Bolsonaro teria motivos para se preocupar. Queiroz é um homem que sabe demais e tem o mapa das conexões familiares com pessoas e assuntos que pai e filho tentaram varrer para baixo do tapete após a eleição de 2018. Como a prisão ocorreu num sítio do advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, em Atibaia, a situação do presidente e do filho mais velho, Flávio Bolsonaro, se complica ainda mais.
Wassef não é advogado de Queiroz. Até onde se sabe, não é amigo, nem parente. Por que hospedaria em sua casa um homem encrencado com a polícia, que fugiu de depoimentos? Quem, além dos Bolsonaro, teria interesse em manter o ex-assessor de Flávio camuflado em um sítio no interior de São Paulo por cerca de um ano? Wassef mentiu quando disse que não sabia onde Queiroz estava. Gabou-se de saber tudo sobre a família Bolsonaro e fez questão de mostrar que circula à vontade pelos palácios do Planalto e da Alvorada.
Queiroz é o tipo de personagem com quem o Ministério Público teria todo interesse em fechar um acordo de delação premiada, mas, mesmo que recuse, os documentos e celulares apreendidos ajudarão a montar o quebra-cabeça que começou a se formar no final de 2018 com a investigação do esquema de “rachadinha” na Assembleia do Rio.
O fato de a Justiça ter decretado a prisão a mulher de Queiroz, Márcia de Oliveira Aguiar, que está na condição de foragida, deve ser considerado como um elemento a mais para uma eventual delação. No mundo do crime, não são poucos os delatores que aceitam contar o que sabem e incluem no acordo a proteção de pessoas da família. De Márcia, o Ministério Público quer saber quem repassou os R$ 174 mil usados para pagar o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, quando se submeteu a um tratamento para câncer.
Fosse só o achaque a funcionários — reais ou fantasmas — o problema ficaria limitado a Flávio, cujo mandato de deputado expirou em 2018. Mas a investigação do Ministério Público vai além e passa pela lavagem de dinheiro e pelas relações com as milícias, já que Flávio empregava em seu gabinete pessoas ligadas a Adriano da Nóbrega, o miliciano morto pela polícia no interior da Bahia. Ex-capitão do Bope, Adriano era acusado de ser o chefe de um grupo criminoso formado por matadores de aluguel, que ficou conhecido como "Escritório do Crime".
O advogado que apareceu para defender Queiroz é Paulo Emílio Catta Preta, o mesmo de Adriano. No gabinete de Flávio na Assembleia, do qual Queiroz era uma espécie de gerente, trabalharam a mulher e a mãe do ex-capitão.