Até os homens de sangue aparentemente frio têm seu limite diante da humilhação pública. Sergio Moro, o juiz que trocou a toga pela cadeira de ministro da Justiça sonhando ser ministro do Supremo Tribunal Federal, resistiu por 15 meses à fritura a que foi submetido pelo presidente Jair Bolsonaro, mas cansou de dobrar a espinha. A saída do diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, foi a gota que fez transbordar um copo que se enchia desde meados do ano passado, quando ruiu a promessa de que Moro teria carta branca para agir.
Moro cai uma semana depois de Luiz Henrique Mandetta, o desconhecido que ganhou projeção no Ministério da Saúde e se tornou mais popular do que o presidente. Moro, ao contrário de Mandetta, chegou ao ministério como um selo de credibilidade para Bolsonaro, mas murchou ao longo do tempo.
A desmoralização do ministro começou no final de fevereiro de 2019, quando Bolsonaro, pressionado por grupos de direita, o obrigou a desconvidar a cientista política Ilona Szabó para uma vaga de suplente do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Era uma censura ideológica e derrubava a ideia de superministro embutida no convite que seduziu Moro quando esteve no condomínio Vivendas da Barra para receber o convite de Bolsonaro.
Moro sai menor do que entrou, o que não significa arquivar um eventual projeto político. Parte do capital acumulado como juiz da Lava-Jato. Dependendo da forma como Jair Bolsonaro se comportar daqui até 2022, pode até vir a ser um adversário na eleição ou o vice de um candidato com maior traquejo para a política.
Em 15 meses, o juiz símbolo da Lava-Jato encolheu a ponto de se tornar irreconhecível. Perdeu praticamente todas as batalhas que enfrentou, dentro e fora do governo. No Congresso, seu plano de combate à criminalidade virou farinha.
A saída do governo, com um discurso forte, é uma forma de tentar recuperar a credibilidade perdida. O agora ex-ministro não terá problema para sobreviver, já que o mercado de palestras pode ser mais rentável financeiramente do que o salário de juiz ou de ministro.
Mais do que Moro, quem perde com a saída é Bolsonaro. Porque a saída do ministro retira credibilidade do governo e expõe os critérios nada republicanos do presidente quando uma investigação da Polícia Federal se aproxima dos filhos.