Com a responsabilidade que o cargo impõe, o presidente Jair Bolsonaro deveria tomar a iniciativa de propor o cancelamento dos atos marcados para 15 de março, não importando se o pretexto é a defesa do governo ou o ataque ao Congresso e ao Judiciário.
O país está em situação de emergência real. Diante do alto poder de contaminação do coronavírus, é leviano estimular a reunião de milhares de pessoas em praças públicas, no momento em que, no mundo inteiro, por prudência, os líderes estão determinando a restrição à circulação de pessoas.
Bolsonaro, que tratou o coronavírus como “crise pequena” e “fantasia da mídia” tem, dentro de casa, um motivo para rever seus conceitos. O teste positivo do secretário de Comunicação, Fábio Wanjgarten, que viajou com ele para os Estados, colocou todo o Palácio do Planalto em observação. Ele, inclusive.
Ao estimular os protestos de 15 de março, o presidente contraria a orientação da própria a cartilha do Ministério da Saúde, que no item 8 diz “evite aglomerações”. É verdade que o texto sugere que as pessoas fiquem em casa, evitem locais fechados, com muitas pessoas, e façam home office. Defensores do protesto dirão que os atos estão marcados para lugares abertos, mas não deixa de ser aglomeração.
Ainda que todos os manifestantes sejam maiores de idade, livres para correr riscos, o problema é que, nos dias seguintes, uma pessoa contaminada pode passar o vírus para outras que ficaram em casa seguindo a orientação das autoridades sanitárias.
Da mesma forma, a esquerda deveria ter juízo e suspender os atos para lembrar os dois anos do assassinato da vereadora Marielle Franco, marcados para este sábado, e as manifestações do próximo dia 18, contra o governo Bolsonaro.
O momento é de união para enfrentar o inimigo microscópico, não de junção para lutar contra adversários reais ou imaginários. Manter atos políticos em um cenário de crise sanitária é tiro que pode sair pela culatra: os organizadores de eventos de massa serão cobrados se contribuírem para piorar um cenário que já está ruim.