Enquanto não se produz a vacina para evitar a contaminação pelo coronavírus, nem se descobre um medicamento para combater a covid-19, a informação é a arma mais eficaz para evitar a disseminação do vírus. Com informação baseada no conhecimento científico é possível evitar que o vírus se espalhe e reduzir os danos. Por mais óbvia que seja essa afirmação, é preciso repeti-la exaustivamente, em defesa da vida: na dúvida, siga a ciência.
Quem sabe mais sobre os perigos do coronavírus: o infectologista que estudou anos e anos ou a tia do WhatsApp? O ministro da Saúde ou o vizinho das receitas caseiras? A secretária da Saúde ou o primo que distribui fake news e manda repassar sem dó?
Nesta quarta-feira (11), durante as duas horas do programa Gaúcha Atualidade, o infectologia Paulo Gewehr permaneceu no estúdio esclarecendo dúvidas. Com voz serena e um incrível poder de síntese, o médico respondeu a dezenas de perguntas, deu orientações e desfez mitos. Em alguns momentos, repetiu o que se imaginava de amplo conhecimento, mas, pelas perguntas recorrentes, ainda não é de domínio da população. Como o vírus se propaga, quais os cuidados básicos de higiene e que comportamentos devem ser evitados na vida social.
Gewehr aproveitou para reforçar a necessidade de as pessoas de qualquer idade fazerem a vacina da gripe, que previne contra outros vírus, como o H1N1, mais mortífero do que o novo corona. Em pleno século 21, parece absurdo ter de argumentar para convencer os obscurantistas de que a vacina da gripe é eficaz e, mais do que nunca, necessária. A propósito, a vacinação foi antecipada e deve começar no dia 23.
O fato de o número de casos no Brasil ter mais do que dobrado em dois dias – eram 25 na segunda-feira e 54 nesta quarta-feira –deveria ser suficiente para convencer os obscurantistas de que o problema é grave e não pode ser negligenciado.
As autoridades da área de saúde estão coesas, falando a mesma língua e tomando as atitudes necessárias, sem alarmismo, mas sem ocultar a preocupação com os riscos de o vírus se espalhar de forma incontrolável.
Erros e acertos dos outros países servem como referência. A informação em tempo real permite aos estrategistas se antecipar. Na Itália, que acaba de endurecer as medidas restritivas de circulação, o pesadelo dos profissionais da saúde e da população é a falta de respiradores artificiais e de leitos de UTI. Não por acaso, esse é um dos focos do Ministério da Saúde.
Aliás
O Gre-Nal não põe apenas torcedores sob risco de contaminação, mas também as forças de segurança pública, já que 450 PMs estarão no estádio a trabalho. A prefeitura diz que não recomendou a suspensão de eventos porque os dois casos confirmados são “importados”.
Planalto chama para protestos
Se havia alguma dúvida de que o presidente Jair Bolsonaro está injetando combustível nas manifestações de 15 de março, o Palácio do Planalto se encarregou de esclarecer.
A Secretaria de Comunicação publicou nas redes sociais do governo um chamamento à participação nos protestos, definidos pelo eufemismo de“a favor do Brasil”.
Sobre uma foto de manifestação anterior, foi montado um card com a frase de Bolsonaro, dita no sábado, de que “as manifestações do dia 15 de março não são contra o Congresso nem contra o Judiciário. São a favor do Brasil”.
Como a recomendação das autoridades sanitárias é para que se evitem aglomerações, o chamado do Planalto para os protestos do dia 15 pode ser tratado como uma leviandade. Sem falar no uso da estrutura pública para divulgar um ato repleto de bandeiras antidemocráticas.
Compulsória
A ideia do governador do Rio, Wilson Witzel, de autorizar a internação compulsória de pacientes com sintomas de coronavírus é uma patacoada.
A rede pública do Rio não dá conta de atender pacientes que procuram atendimento. E é improvável que alguém com crise respiratória aguda resista à internação.