Pronunciamento desatinado
Durante pronunciamento em rede nacional, o presidente Jair Bolsonaro disse que os governadores estão exagerando ao adotarem medidas restritivas e, com o argumento de não prejudicar a economia, pregou o afrouxamento da vigilância que previne a proliferação do coronavírus .
Bolsonaro acusou a imprensa de "espalhar o pânico" e sugeriu que somente os idosos e pessoas com problemas respiratórios sejam mantidos em quarentena. A orientação contraria a atitude de praticamente todos os líderes mundiais. A Itália, que tomou iniciativa parecida no início da pandemia, teve de recuar após uma avalanche de casos confirmados e corpos empilhados a espera do sepultamento.
Dois dias depois, o presidente voltou a minimizar os efeitos da covid-19, ao afirmar que o contágio no Brasil não será como nos Estados Unidos porque, segundo ele, “o brasileiro mergulha no esgoto e não pega nenhuma doença”.
Governadores resistem
No dia seguinte ao pronunciamento presidencial, o fórum de governadores se reuniu virtualmente e defendeu a manutenção das ações de isolamento da população como medida necessária para enfrentar o coronavírus e evitar o colapso do sistema de saúde.
Conversaram por teleconferência governadores de 26 Estados — o do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, não participou.
Redator da carta que compilou as reivindicações e apontamentos do fórum ao governo federal, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, destacou que a reunião dos governantes é importante para demonstrar unidade no enfrentamento à crise sanitária.
Os gestores estaduais solicitaram o apoio do Congresso para viabilizar medidas que auxiliem os Estados diante da crise.
Crueldade revogada
Editada na madrugada de domingo para segunda-feira, uma medida provisória do governo federal permitia a suspensão do contrato de trabalho por até quatro meses, sem pagamento de salários. Bombardeado pelas críticas, Jair Bolsonaro ordenou que o trecho que continha esse dispositivo fosse revogado.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, resumiu a confusão a um “erro de redação” e disse que o texto foi publicado às pressas.
A péssima repercussão coincidiu com a divulgação de uma pesquisa do instituto Datafolha mostrando que a população não está satisfeita com a atuação de Bolsonaro na crise do coronavírus.
Pressão de empresários
Sentindo-se empoderados pelo discurso presidencial, empresários de diversos setores da indústria, comércio, serviços e agronegócio começaram a pressionar prefeitos e governadores para que as medidas de restrição sejam abrandadas e para que a retomada da produção nas indústrias e a reabertura de lojas, shopping centers, bares e restaurantes comece a ocorrer.
No Rio Grande do Sul, as três principais federações empresariais (Fiergs, Federasul e Farsul) demandam um plano de afrouxamento das restrições.
O governador Eduardo Leite disse na quinta-feira que antes de 10 dias não há hipótese de acabar com a quarentena e que definir prazos para a retomada da atividade econômica, como querem as entidades empresariais, seria “um achismo, um chute”. As medidas serão reavaliadas ao longo da próxima semana, à luz da evolução da pandemia.
Legislativos dão exemplo
Para auxiliar o governo do Estado no combate ao coronavírus, a Assembleia Legislativa anunciou o repasse de R$ 30 milhões. O dinheiro virá da suspensão de diárias e emissão de passagens e do corte de verbas de gabinetes, bancadas e comissões aprovadas pela Mesa Diretora.
Normalmente, a devolução de sobras orçamentárias é realizada no final do ano. Devido à gravidade da situação por conta da disseminação do vírus, o presidente da Casa, Ernani Polo (PP) decidiu antecipar o repasse dos valores ao Executivo antes de completar dois meses no cargo.
Em Porto Alegre, a Câmara de Vereadores aprovou a cedência de R$ 10 milhões à prefeitura. O aporte foi aprovado por unanimidade em reunião virtual dos líderes partidários.
Prefeito em quarentena
O prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan, estendeu até a próxima segunda-feira (30) a quarentena a que se submeteu após ter contato com os presidentes do Grêmio e do Inter, que foram diagnosticados com coronavírus.
Inicialmente, com a notícia de que o presidente do Inter, Marcelo Medeiros, testou positivo, o prefeito de Porto Alegre previa retomar as atividades normalmente na quarta passada, quando se completaram 14 dias de seu último contato com Medeiros.
O período foi ampliado porque, na segunda-feira seguinte, dia 16, Marchezan se reuniu com o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, que também testou positivo para a covid-19, para discutir acordo sobre as obras próximas à Arena.