Há muitos anos o Rio Grande do Sul não via nível tão alto de adesão a uma greve de professores. Mesmo considerando as divergências entre os dados do Cpers e os do governo do Estado, o número de escolas paradas é o mais elevado das últimas greves. Escolas que nas edições anteriores mantiveram as atividades normais, agora estão paradas. Qual é a diferença?
Nas greves do governo de José Ivo Sartori, aprovadas em assembleias com escassa participação, os professores entravam sabendo que não alcançariam seu objetivo.
O foco era aumento salarial, pagamento em dia e piso nacional como básico do plano de carreira, reivindicações que não havia como atender com o Estado quebrado.
Desta vez é diferente. A greve é uma tentativa de impedir que a Assembleia aprove um pacote que o próprio governador Eduardo Leite considera amargo. Nele está embutida a mudança no plano de carreira, defendido com unhas e dentes a cada tentativa de alteração, mesmo sendo um empecilho à concessão de reajustes, pelo efeito cascata que produz.
A dificuldade do Piratini é convencer os professores (e os deputados) de que a vida será melhor depois dessa travessia espinhosa. Embora ninguém tenha redução de salário e haja ganhos no vale-alimentação para quem recebe menos de R$ 2 mil e no abono família para os que estão na faixa abaixo de R$ 3 mil, o corte de adicionais de tempo de serviço e a mudança no sistema de gratificações terão impacto no futuro.
Há outro ponto que une os professores contra o pacote: a cobrança de contribuição previdenciária para os aposentados, na faixa que excede o salário mínimo.
Aliás
O que mais incomoda os professores é o fato de, no novo plano de carreira do magistério, o último degrau ter subsídio inferior ao salário de entrada de qualquer servidor da área de segurança pública.
Sondando a base
Apesar de o MDB integrar a base do governo, o deputado Edson Brum está disposto a votar contra o projeto que altera o Estatuto do Magistério.
Brum decidiu ouvir sua base nos vales do Rio Pardo e do Taquari. Na quinta-feira (21) à noite, Brum se reuniu com servidores no plenário da Câmara de Vereadores de Santa Cruz. Na sexta (22), conversou com professores em Arroio do Meio. Nos dois encontros, só recolheu críticas às medidas.
Depoimentos de professores mostram que também há muita desinformação em relação à extensão do pacote, pintado como mais duro do que é de fato, como se previsse redução dos salários atuais.
O líder da bancada do MDB, Fábio Branco, vai receber a diretoria do Cpers na segunda-feira na Assembleia.