Menos de 24 horas após a divulgação, o Ministério Público do Rio de Janeiro reduziu a pó o depoimento do porteiro que citou o nome do presidente Jair Bolsonaro como a pessoa que autorizou a entrada de Élcio Queiroz no condomínio Vivendas da Barra, no dia em que a vereadora Marielle Franco foi assassinada.
O porteiro disse que, antes de se dirigir à casa do cúmplice Ronnie Lessa, dono das casas 65 e 66, Élcio informou que iria na 58, de propriedade de Bolsonaro. E que “seu Jair” teria autorizado a entrada.
Bolsonaro, como a reportagem do Jornal Nacional mostrou já na terça-feira (29), estava em Brasília naquela tarde. O vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente, divulgou ontem uma planilha eletrônica das ligações feitas pelo interfone, mostrando que quem autorizou a entrada de Élcio Queiroz foi Lessa e não alguma pessoa da casa 58, como disse o porteiro.
O episódio revelou falhas no inquérito que explicam por que, quase 600 dias depois do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes, Lessa e Elcio estão presos como autores do crime, mas a polícia e o Ministério Público não conseguem responder quem mandou matar a vereadora e por quê.
Um exemplo de falha primária: o livro de registro de entrada no condomínio foi apreendido somente no dia 5 de outubro. Os registros eletrônicos, com a gravação da conversa entre porteiros e pessoas que atendem ao interfone, só chegaram à polícia porque o síndico os entregou, “para colaborar com a investigação”.
Apesar de Lessa ter sido preso em março, não ocorreu aos investigadores fazer uma varredura para ver quem entrou no condomínio nos dias anteriores. Tempo não faltou para apagar sinais que poderiam levar aos mandantes.
Aliás
A disputa pelo voto do eleitorado conservador, em 2022, está por trás dos ataques do presidente Jair Bolsonaro ao governador do Rio, Wilson Witzel, seu antigo aliado. Na Arábia Saudita, Bolsonaro acusou Witzel de ter vazado informações sobre o inquérito que apura o assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.