Um mês depois de ter começado série de reportagens sobre diálogos entre o então juiz Sergio Moro e integrantes da força-tarefa da Lava-Jato, o site The Intercept Brasil divulgou a primeira mensagem de áudio. O conteúdo é menos importante do que a forma. Por se tratar de uma mensagem em áudio do procurador Deltan Dallagnol para o grupo Filhos do Januario 3, disparada às 23h33min de 28 de setembro de 2018, dificulta a tese da defesa de que as falas podem ter sido adulteradas. A voz do procurador é inconfundível.
O conteúdo nada acrescenta às conversas já conhecidas. Na gravação, antecedida pelo aviso de "URGENTE" e "SEGREDO", Dallaganol comemora a decisão do ministro Luiz Fux, do STF, que proibiu a entrevista do ex-presidente Lula à Folha de S.Paulo, autorizada inicialmente pelo ministro Ricardo Lewandowski. Que tal decisão foi amplamente comemorada entre os integrantes da Lava-Jato, sabia-se pelo material divulgado pelo Intercept nas primeiras reportagens. Como o site não apresentou print das conversas (e sabe-se que é fácil forjar uma reprodução do Telegram ou do WhatsApp), a divulgação da mensagem de voz confere um selo de autenticidade ao material que vem sendo publicado a conta-gotas.
A comemoração e os comentários sugerem que os integrantes da força-tarefa tinham preocupação política com a repercussão de uma entrevista de Lula às vésperas da eleição. Procuradores manifestam expressamente o temor de que, se autorizada pelo Supremo Tribunal Federal, a entrevista pudesse ajudar a eleger Fernando Haddad (PT).
— Ando muito preocupada com uma possível volta do PT, mas tenho rezado muito para Deus iluminar nossa população para que um milagre nos salve — escreveu a procuradora Anna Carolina Rezende às 11h24min do mesmo 28 de setembro.
— Valeu Carol! — respondeu Dallagnol.
E acrescentou em duas mensagens seguidas:
— Reza sim.
— Precisamos como país.
A procuradora Laura Tessler opinou que a autorização de Lewandowski para o ex-presidente falar era uma "piada" e "revoltante", "um verdadeiro circo". Outra procuradora, Isabel Groba, comentou: Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"
Inicialmente solitário, nos dias seguintes à divulgação das primeiras reportagens, o site The Intercept fez parcerias com o jornalista Reinaldo Azevedo (BandNews), a Folha de S.Paulo e a revista Veja, para ampliar a repercussão do material. Na edição do fim de semana, Veja trouxe novas trocas de mensagens que mostram como o então juiz Sergio Moro orientava os procuradores.
Com a divulgação do áudio de Dallagnol, fica a dúvida: haverá também gravações de Moro? O ministro da Justiça disse à jornalista Carolina Bahia que, provavelmente, não. É que ele não gosta de receber nem de mandar mensagens de áudio. Moro reafirmou que, se ficar comprovado que cometeu alguma irregularidade como juiz da Lava-Jato, deixará o ministério de Jair Bolsonaro.