A tarde de domingo estava terminando quando o site The Intercept Brasil detonou uma bomba com potencial para atingir os principais protagonistas da Operação Lava-Jato, a começar pelo ex-juiz Sergio Moro e pelo procurador Deltan Dallagnol. Trata-se do vazamento de conversas privadas no aplicativo Telegram, um concorrente do WhatsApp, repassadas ao site por fonte anônima, aparentemente a partir da invasão de telefones celulares ou perfis em aplicativos de conversas.
Às 20h08min, o site da Procuradoria da República no Paraná divulgou nota com o título "Força-tarefa informa a ocorrência de ataque criminoso à Lava Jato" e o subtítulo "Procuradores mostram tranquilidade quanto à legitimidade da atuação, mas revelam preocupação com segurança pessoal e com falsificação e deturpação do significado de mensagens".
O impacto da divulgação de conversas obtidas de forma ilegal e do conteúdo das mensagens trocadas entre integrantes da força-tarefa será medido ao longo dos próximos dias. Sem conhecer a íntegra do material em poder do site, seria leviano dizer qual a intensidade do terremoto e afirmar que está descartado o risco de tsunami.
Há um crime incontestável na quebra do sigilo das comunicações de qualquer cidadão. Pior ainda quando se trata de autoridades envolvidas na maior operação de combate à corrupção da história do país.
A grande grande perdedora é a Lava-Jato, diante do risco de provas serem anuladas e de condenações acabarem revistas nas instâncias superiores, com a alegação de que houve conluio entre acusador e juiz. Advogados de condenados e réus — soltos ou presos — estão esfregando as mãos diante da perspectiva de uma reviravolta e do sepultamento precoce da Lava-Jato. Por causa de vazamentos, operações como a Castelo de Areia e a Satiagraha naufragaram e seus personagens escaparam das garras da Justiça.
Depois da Lava-Jato em si, Moro, hoje ministro da Justiça e da Segurança Pública e candidato à primeira vaga a ser aberta no Supremo Tribunal Federal (STF) é quem mais tem a perder com o vazamento. Ele relatou que teve o telefone hackeado na terça-feira. O site The Intercept sustenta que recebeu os arquivos várias semanas antes e que decidiu publicá-los dada o que seus editores consideraram a gravidade do conteúdo.
Os diálogos mostram que Moro orientou os procuradores da Lava-Jato sobre a estratégia que deveriam adotar nas investigações, quebrando um dos princípios que norteiam a atuação de um magistrado, o da independência. Herói para boa parte dos brasileiros por sua atuação como juiz no combate à corrupção, Moro pode ficar sem condições de seguir no Ministério da Justiça e perder a chance de virar ministro do Supremo.
O site The Intercept, que assume claramente uma posição contrária aos investigadores e juízes da Lava-Jato, diz que o material divulgado no final da tarde de domingo é só o começo.
ALIÁS: O vazamento das conversas entre membros da força-tarefa da Lava-Jato interessa particularmente ao ex-presidente Lula, preso em Curitiba desde abril do ano passado. Em recentes entrevistas, Lula disse que “desmascarar” Sergio Moro era um dos seus objetivos de vida.