No mundo paralelo em que vivem os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a crise que afeta a maioria dos brasileiros é apena suma abstração. A cada licitação para fornecimento de refeições, repete-se a exigência de que tudo seja do bom e do melhor. Os detalhes divulgados no fim de semana pela revista IstoÉ e pelo jornal O Estado de S. Paulo sobre o pregão eletrônico para “serviços de fornecimento de refeições institucionais” reforçam a impressão de que os ministros debocham da população.
Com gasto estimado em R$ 1,134 milhão, o edital para contratação de um fornecedor para as refeições servidas pela Corte tem especificações de corar frade de pedra. Não se trata apenas da inclusão de iguarias como medalhões de lagosta com molho de manteiga queimada, bacalhau à Gomes de Sá ou codornas assadas. O maior deboche está nas exigências dos supremos paladares para a carta de vinhos.
Para ter certeza de que só serão servidos vinhos que não provoquem ressaca, a especificação é clara: se for Tannat, só de safra igual ou posterior a 2010 e que tenha pelo menos quatro premiações internacionais.
“O vinho, em sua totalidade, deve ter sido envelhecido em barril de carvalho francês, americano ou ambos, de primeiro uso, por período mínimo de 12 meses”, esclarece o edital.
Se a uva for Merlot, a safra deve ser igual ao posterior a 2011, porque os conhecedores sabem que não é bem verdade aquela história de que “o vinho, quanto mais velho, melhor”. A exigência de quatro premiações internacionais vale para todos os vinhos. Capirinha? Só de “cachaças envelhecidas em barris de madeira nobre por um ou três anos”. Uísque? Apenas os envelhecidos por 12, 15 ou 18 anos.
A explicação para o luxo do cardápio é primorosa: o edital apenas reproduz as especificações e características de contrato semelhante firmado pelo Ministério das Relações Exteriores.