Em meio à crise interna gerada a partir do inquérito instaurado para apurar ofensas e ameaças a seus ministros, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu mais um passo rumo a um triste afastamento da sociedade. Nem bem havia se recuperado da série de críticas disparadas a partir da decisão de censurar reportagens jornalísticas – que geraram descontentamento até mesmo por parte de seus integrantes mais antigos – a Suprema Corte promoveu pregão eletrônico para "serviços de fornecimento de refeições institucionais".
A compra inclui medalhões de lagosta e vinhos envelhecidos em barril de carvalho francês. O gasto estimado: mais de R$ 1,1 milhão .
As redes sociais se inflamaram a partir da divulgação de informações sobre a compra em portais de notícia nesta sexta-feira (26), entre eles a revista Istoé e o jornal O Estado de S. Paulo.
Com o título "Banquete Supremo", a revista contou detalhes do cardápio previsto para as refeições protagonizadas pelo STF. De acordo com a publicação, na lista de exigências do contrato, previsto para durar 12 meses, estão pratos como medalhões de lagosta com molho de manteiga queimada, codornas e tournedos de filé com molho de pimenta ou mostarda.
As bebidas não ficam aquém. A reportagem cita seis variedades de vinhos possíveis para acompanhar as refeições: Tannat, Assemblage, Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc.
Além disso, há outros aspectos detalhados no edital. Está descrito, por exemplo, que todos os vinhos precisam ter pelo menos quatro premiações internacionais. No caso do Tannat ou Assemblage, o STF exige que tenham sido envelhecidos em "barril de carvalho francês, americano ou ambos, de primeiro uso".
"O povo não aguenta mais tamanho acinte", escreveu a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que promete entrar com ação popular contra o que chamou de "vergonhoso banquete" do Supremo.
"Absurdo. Em tempos de crise, isso é um escárnio", publicou o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes à frente do Movimento Brasil Livre (MBL). Na publicação do parlamentar, a jornalista Leda Nagle chamou de "deboche" o banquete pretendido pela Corte.
De fato, em um país onde o salário mínimo do trabalhador está estabelecido em R$ 998 e congressistas discutem aprovar mudanças nas regras para a aposentadoria sob o argumento de que é preciso economizar, ostentar medalhões de lagostas com molho de manteiga queimada só contribui para levar a imagem do Supremo para o fundo do mar. Uma pena, visto que crescem ataques desmedidos e inflamados que sugerem até o fechamento – inadmissível – da Suprema Corte.
O descrédito da sociedade é fruto de decisões da própria Corte, alertou o ministro Luis Roberto Barroso. E só quem tem a perder somos todos nós. A atuação do STF é absolutamente indispensável para o fortalecimento da jovem democracia brasileira.
Outro lado
Em nota publicada pela revista Istoé, o Supremo informou que "o edital da licitação do serviço de refeições institucionais em elaboração pelo STF reproduz as especificações e características de contrato semelhante firmado pelo Ministério das Relações Exteriores (que faz o cerimonial da Presidência da República)".