A crise que culminou com a não ida de Paulo Guedes à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, nesta terça-feira (26), tem origem na insatisfação de deputados que até ontem estavam muito próximos ao presidente da República, Jair Bolsonaro. O motivo do desgosto, no entanto, não é segredo. Nos últimos dias, até as carpas do Palácio da Alvorada já ouviram que o Planalto "fechou as portas" para deputados e sequer ouve políticos que compõem a base de apoio ao presidente no Congresso, que buscam sugerir emendas ou costuras ao texto da reforma da Previdência.
A bateção de cabeça entre articuladores políticos já chamava a atenção nos corredores acarpetados de Câmara e Senado, mas ganhou as manchetes nos últimos dias, especialmente após declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado delegado Waldir (PSL), em entrevista publicada em GaúchaZH, chegou a dizer que nem mesmo o PSL, partido do presidente, está convencido sobre o texto enviado pelo Executivo com mudanças nas regras para a aposentadoria. Líderes com experiência no Congresso dizem que o tratamento precisa mudar e será preciso calçar "sandálias da humildade".
À coluna, o deputado Kim Kataguiri (DEM) apontou mais um erro patrocinado pelo atual governo. Em meio à confusão estabelecida no Congresso, emissários do Planalto têm emitido sinais à opinião pública para vincular movimentos legítimos de articulação política com atos de corrupção. É uma forma de tentar justificar a falha, na interpretação do líder do Movimento Brasil Livre (MBL), que aliás é favorável à reforma.
Neste sentido, o governo não recebe — nem ouve — demandas de parlamentares e justifica à população que não está disposto a promover o famoso "toma lá, dá cá", reforçando perante aos eleitores a pecha de interesse dos congressistas. Com isso, deputados seguem ignorados e se sentem abandonados por um presidente que os joga aos leões.
Em tempo: vale lembrar que a história mostra que dar as costas ao Congresso não tem se mostrado em nada eficiente para o andamento de propostas relevantes para o país e, neste caso, a reforma da Previdência pode ser a primeira vítima de uma estratégia que, até aqui, não vem dando muito certo.