Pelo que se conhece de sua biografia, o ministro das Relações Exteriores de Jair Bolsonaro, Ernesto Araújo, é, do ponto de vista ideológico, um Celso Amorim ao contrário. Apesar de Bolsonaro ter dito que a diplomacia brasileira não teria “viés ideológico”, as manifestações de Araújo indicam o contrário – a menos que se entenda “ideologia” como sinônimo de esquerda.
O blog de Araújo, que como ele mesmo adverte expressa opiniões pessoais, é farto em exemplos de que ele é afinadíssimo com o discurso de campanha de Bolsonaro e de seus seguidores. O pequeno texto de apresentação é revelador de seu pensamento: “Sou Ernesto Araújo. Tenho 28 anos de serviço público e sou também escritor. Quero ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista. Globalismo é a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural. Essencialmente é um sistema anti-humano e anti-cristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o globalismo, cujo objetivo último é romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante. O projeto metapolítico significa, essencialmente, abrir-se para a presença de Deus na política e na história”.
As linhas gerais da política externa indicam que será oposta à dos governos petistas, que apostaram na relação Sul-Sul, com certo distanciamento em relação aos Estados Unidos. Bolsonaro avisou que quer distância de países comunistas e, antes mesmo de assumir, implodiu a ponte que trouxe milhares de médicos cubanos para trabalhar nos confins do Brasil.
A saída dos médicos cubanos, que nunca foram bem aceitos pelo grupo vitorioso na eleição, era questão de tempo, mas ocorrerá antes do que se poderia imaginar, por decisão do Ministério da Saúde de Cuba.
Bolsonaro sempre criticou o programa. Na campanha, dizia que o Brasil sustentava a ditadura cubana ao repassar ao país 70% do valor do salário pago aos médicos. Suas condições para manter o programa (além da revalidação do diploma, que todo o dinheiro ficasse com os médicos e que pudessem trazer as famílias) não foram aceitas por Cuba.
Se algum cubano quiser pedir asilo, terá o pedido aceito e poderá continuar no programa se revalidar o diploma.
O retorno dos cubanos é uma preocupação para as comunidades que não sabem se o governo encontrará médicos brasileiros dispostos a ocupar as 8,5 mil vagas nas periferias das cidades e em áreas remotas do país. O Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) divulgaram nota conjunta lamentando a interrupção do acordo. A nota diz que “a rescisão repentina desses contratos aponta para um cenário desastroso em, pelo menos, 3.243 municípios” e que “mais de 29 milhões de brasileiros serão desassistidos”.
Os prefeitos dizem que o Mais Médicos é amplamente aprovado pelos usuários: 85% afirmam que a assistência em saúde melhorou com o programa. A promessa do governo Temer é substituir os cubanos por brasileiros.