No mesmo dia em que o registro de candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava sendo julgado pelo Tribunal Superior Eleitoral, Fernando Haddad, provável concorrente do PT à Presidência, visitava Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Senado e aliado de Michel Temer, no Ceará. Um dia depois, desfilava com Renan Calheiros (MDB-AL) e seu filho, Renan Filho, pelas ruas de Maragogi (AL).
Se por um lado bradam contra um complô que impede Lula de ser candidato, ao mesmo tempo líderes do PT abraçam potenciais integrantes desse sistema, chamados de golpistas há dois anos, e que agora tentam surfar na popularidade do ex-presidente. Eunício declarou-se a favor do impeachment de Dilma Rousseff, assim como deputados do PSB, legenda usada por Lula para isolar Ciro Gomes (PDT). O PT também enterrou candidaturas próprias em favor de aliados que até pouco tempo não estavam no rol de amigos.
A incoerência dos partidos não é nova, tampouco o enredo a ser seguido a partir do impedimento da candidatura de Lula. O Judiciário entrou mais uma vez na mira dos petistas, dispostos a desconstruir a imparcialidade de magistrados. A antecipação da sessão realizada pelo relator do caso no TSE, Luís Roberto Barroso, será um dos pontos ressaltados. Os ministros terem ignorado decisão da ONU, sugerindo que o ex-presidente deveria ser candidato, também vem sendo um fato explorado – essa questão foi exposta em uma tela azul, no horário eleitoral de sábado, antes do programa do PT na TV.
Para ilustrar jurisprudência que não está sendo seguida, o presidente do PT no Estado, Pepe Vargas, usa o caso do deputado João Rodrigues (PSC-SC), que foi condenado em segunda instância, preso e solto por decisão do STJ. Liminar também o liberou para concorrer à reeleição.
– João Rodrigues pode continuar aparecendo na TV, por que com Lula é diferente? – indaga Pepe.
O presidente do PT-RS diz que, mesmo discordando, a coligação seguirá decisão judicial, inserindo Lula em apenas 25% do tempo dos programas, sem deixar claro que ele é o cabeça de chapa. O PT não mencionará que Haddad substituiu de vez o ex-presidente na disputa. Manuela D’Ávila (PCdoB), provável candidata a vice, deverá aparecer em breve no horário destinado à chapa.