Desde que o ex-presidente Lula teve a condenação confirmada no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), os líderes do PT sabiam que ele não poderia ser candidato na eleição de outubro. A decisão da maioria dos integrantes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) negando o registro a Lula põe fim ao faz de conta que o partido encenou nos últimos meses. O nome de Lula foi apresentado como candidato em uma estratégia calculada para capitalizar sua popularidade e, na última hora, tentar transferi-la ao substituto. Nos cálculos do PT, quanto mais tarde, melhor.
Se pudessem escolher a data, os petistas deixariam para anunciar a substituição quando as urnas eletrônicas já estivessem inseminadas. Assim, ao digitar o número 13 em 7 de outubro apareceria a foto de Lula e não a de Fernando Haddad. A Justiça Eleitoral tem pressa, por entender que o eleitor precisa saber em quem está votando.
Com Lula, o PT tinha um motivo a mais para insistir na candidatura, além da convicção de seus militantes de que é inocente: a falta de um candidato natural a assumir seu legado. Da cadeia, o ex-presidente comandou essa estratégia com tanta competência, que se manteve nos holofotes, conseguiu a façanha de crescer nas pesquisas e ocupar a liderança isolada em todos os levantamentos.
Diante da impossibilidade de continuar usando a imagem de Lula como candidato no horário eleitoral, o PT deve apressar a substituição, para mostrar ao eleitor que Haddad é o ungido. O relator deu 10 dias.
O partido tem um mês para fazer o transplante de popularidade, uma operação delicada, que já deu certo em 2012, quando Haddad se elegeu prefeito de São Paulo. A diferença é que, à época, o “cirurgião” Lula estava presente no palanque de quem se dizia ser seu “segundo poste”. Com Lula na cadeia, o PT precisa recorrer a gravações de arquivo, como fez nos primeiros programas para o horário eleitoral de rádio e TV.
Haddad não é mais o “poste” de 2012. Amadureceu como gestor no comando da prefeitura de São Paulo, uma tarefa tão ingrata, que seu sucessor, João Doria (PSDB), largou um ano e três meses depois de assumir para ser candidato a governador, mas, nas pesquisas, não passa de 4%.