Política

Entrevista

Prisão de Lula fez ele sair de 25 pontos para quase 40 nas pesquisas, diz Gilmar Mendes

Ministro do STF afirma que se criou um “espetáculo” em torno do ex-presidente desde o episódio de condução coercitiva

GZH

Carlos Moura / STF / Divulgação

Em meio à polêmica sobre a possibilidade do ex-presidente Lula participar da propaganda eleitoral como candidato às eleições de 2018 — o que pode ser definido em sessão extraordinária do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta sexta-feira (31) —, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes afirmou que, desde o episódio da condução coercitiva a que o petista foi submetido, "existe um espetáculo rocambolesco em torno dele e isso faz com que as pessoas entendam que há um intuito persecutório (contra o ex-presidente)".  

Para o ministro, Lula "é um objeto de desejo dos personagens que vivem atuando neste sentido". Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, Mendes afirmou que acredita que, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente está impossibilitado de concorrer às eleições com a condenação em segundo grau, mas destacou que considera este um modelo autoritário.   

_ A Lei da Ficha Limpa, que agora está sendo contestada fortemente, é uma obra do PT. No que diz respeito à condenação em segundo grau, é uma questão de inelegibilidade que tenho chamado até de inelegibilidade aritmética. Não há dúvida em relação a isso. Mas todos os episódios que marcaram o encarceramento do Lula fizeram ele sair dos 25 pontos que estava para quase 40. Hoje ele estaria quase que ganhando a eleição em primeiro turno _ afirmou. 

Ouça a entrevista na íntegra:

Questionado sobre a prisão preventiva em segunda instância, sobre os casos em que os réus foram posteriormente liberados pelo STF e sobre as dualidades de posições entre ele e a Lava-Jato, o ministro afirmou que "não discute com juiz de primeiro grau", e afirmou que o que faz é a revisão de julgamentos: 

_ Não se trata de debate nem contraposição. Até porque não há contraposição entre o Supremo e primeira instância. Hoje se tornou uma moda "vamos prender" e depois se pede desculpa. (...) É isso que tenho denunciado. Estão usando prisão preventiva para outra finalidade _ afirmou.  

Gilmar Mendes aproveitou para criticar a atuação da Justiça no caso do ex-reitor Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, que se matou após ser afastado do cargo e preso por suspeita desvio de recursos: 

– É um caso que envergonha a todos. É muito vergonhoso prender um reitor que não tinha nada a ver com a fraude. Mentiram para o público. O homem se matou, e quem pede desculpa agora? Usaram prisão preventiva de maneira indevida. E agora, quando a universidade protesta, ameaçam os professores de processo. Este é um pensamento totalitário que tem que ser repudiado. 

O ministro falou, ainda, sobre o seu voto a favor da constitucionalidade da terceirização irrestrita, que foi aprovada por sete a quatro pelo STF na quinta-feira (30). De acordo com Mendes, no Brasil ainda se discute a aplicação da CLT de "modo extremamente radical": 

–  Imaginamos ainda as empresas verticalizadas numa estrutura muito sólida, e a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho fazem suas intervenções causando uma grande insegurança jurídica. Eu acho que foi extremamente importante colocar a discussão sobre a atividade meio e atividade fim. Esta é a pedra de toque da reflexão da Justiça do Trabalho especialmente no TST e do seu entendimento sumular para saber o que é uma atividade meio e o que seria uma atividade fim. Hoje é muito claro que, na fabricação de um automóvel, uma pessoa terá que pintar o automóvel, outra que colocar peças de computador, e muitas vezes essas atividades são terceirizadas. No Brasil isso seria impossível segundo as premissas da Justiça do Trabalho. 

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