A primeira oportunidade para comparar o desempenho dos candidatos à Presidência da República foi como o capítulo inaugural de uma minissérie, em que se precisa apresentar os personagens para que o público compreenda o enredo dos capítulos que verá nos próximos dois meses. Faltou um dos protagonistas, o candidato do PT, o que tira o brilho da estreia. Os adversários têm uma estratégia sem o PT no jogo e outra com todos os personagens em cena.
Impossível definir o voto pelo que se viu no primeiro confronto. Nenhum foi particularmente brilhante, mas, pela dificuldade de comunicação da maioria, dois acabaram por se destacar: Ciro Gomes e Guilherme Boulos.
Isolado pelos concorrentes, que evitaram lhe fazer perguntas, Ciro desapareceu no primeiro bloco e conquistou terreno nos seguintes, mais pela forma do que pelo conteúdo. A maneira como enuncia propostas esdrúxulas, que promete aprofundar no decorrer da campanha, passa convicção. É o caso de tirar do SPC milhões de brasileiros que estão com o nome sujo na praça. Como fará? Isso ficou para depois. Não havia, de fato, como aprofundar qualquer tema em cerca de um minuto.
Pela natureza de sua candidatura, com chances remotas de classificação para o segundo turno, Boulos é o franco-atirador que não poupa ninguém. Bem articulado, rápido no raciocínio, disparou flechas certeiras contra Jair Bolsonaro (por receber auxílio-moradia tendo casa própria), Geraldo Alckmin (pela aliança com partidos repletos de líderes corruptos) e Henrique Meirelles (pela relação com o sistema financeiro), e cunhou a expressão “50 tons de Temer” para fustigar os aliados do presidente, que concorrem como se fossem de oposição.
Seja pelo formato, seja porque os adversários o pouparam, Bolsonaro sobreviveu. Os concorrentes diretos evitaram questioná-lo, talvez para não dar vitrine a quem está melhor nas pesquisas. Deu respostas curtas para não se encrencar, mediu as palavras e saiu sem fazer declarações polêmicas. Apresentou soluções simplistas para problemas complexos, como a de combater a criminalidade acabando com a atual política de direitos humanos e resolver os problemas da educação pela disciplina nas salas de aula e pela criação de escolas militares nos Estados. Só Boulos conseguiu tirá-lo do sério.
Alckmin, Meirelles e Alvaro Dias pareciam estar disputando o troféu monotonia. O ex-governador de São Paulo teve dificuldades para mostrar seu conhecimento de gestão pública, engessado pelo estilo professoral. Usou e abusou de termos que a maioria dos eleitores não domina, como spread, para ficar com um exemplo clássico.
Aparentando cansaço, Alvaro Dias repetiu o mantra da “refundação da República”, expressão que adotou ainda na pré-campanha, sem explicar no que consiste. Repetiu outros clichês, como “a necessidade de institucionalizar a Lava-Jato”, e insistiu no convite a Sergio Moro para ser ministro da Justiça. Ainda não se se sabe o que Moro acha da ideia.
Meirelles não conseguiu despir o figurino de ministro da Fazenda. Com dificuldades de expressão, mostrou que precisa treinar muito nos próximos dias para conseguir ser entendido pelo eleitor. Mesmo sendo um homem inteligente e com conteúdo, problemas de dicção o impediram de expor seus de vista com clareza.
Candidata pela terceira vez, Marina Silva adotou um discurso do tipo mais do mesmo, sem o brilho e a energia de 2014, e, como os outros concorrentes, apresentou poucas propostas concretas.
Como em toda eleição, não falta o candidato folclórico para dar um toque circense à campanha. O deste ano é Cabo Daciolo, o bombeiro carioca que não conhece o plural, se define como servo de Deus e dá a entender que tem conexão direta com o “Senhor Jesus”.