Desde 1989, nunca se chegou tão perto do início da campanha eleitoral com os principais candidatos a presidente sem um vice definido. Dado o histórico do Brasil, em que os vices acabam tendo protagonismo maior do que em outros países, a demora na definição dos candidatos, combinada com a falta de critério na escolha, amplia a desconfiança do eleitor no processo.
Até agora, só Guilherme Boulos (PSOL) e João Amoêdo (Novo), que concorrem sem aliança e estão na ponta de baixo das pesquisas, definiram seus vices. A convenção do PSOL homologou a líder indígena Sônia Guajajara como vice de Boulos. Amoêdo terá o professor Christian Lohbauer como parceiro.
A demora na consolidação das alianças explica o atraso na composição das chapas. Com a liderança nas pesquisas, o PT, que insiste na candidatura do ex-presidente Lula, apesar da condenação em segunda instância, não escolheu o vice nem definiu o critério.
A vaga seria naturalmente de um aliado, mas, os possíveis parceiros não acreditam que o registro de Lula seja homologado.
Jair Bolsonaro (PSL), que assume a liderança quando o nome de Lula é excluído, está entre um ex-astronauta e um príncipe sem trono, depois da recusa do senador Magno Malta (PR), do carão do PRP, que não autorizou a candidatura do general Augusto Heleno, e do desencanto de seus seguidores com a sinceridade da advogada Janaína Paschoal.
Autora do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, Janaína pediu tempo para pensar no convite, mas, enquanto pensava, caiu em desgraça com bolsonaristas, por ter condenado o “pensamento único” na convenção do PSL. O casamento ficou inviável porque ela tem posições opostas às de Bolsonaro em relação a temas como cotas raciais e redução da maioridade penal.
Os mais cotados para a vaga de vice do capitão do PSL são o ex-astronauta Marcos Pontes e o príncipe virtual Luiz Philippe de Orléans e Bragança, herdeiro da monarquia que acabou em 1889. Pontes tem um problema no passado: já foi filiado ao PSB e os seguidores de Bolsonaro têm alergia a qualquer coisa parecida com socialismo.
Geraldo Alckmin (PSDB) guardou a vaga de vice para o centrão. Achou que tinha encontrado o par perfeito quando o PR indicou o empresário (e milionário) Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar. O problema é que o PR não combinou com o noivo e Josué mandou dizer que não está interessado na vaga.
Como o centrão é o que se poderia chamar de um saco de gatos, o vice pode sair de qualquer um dos vários partidos que hoje anunciarão a aliança com Alckmin.
O mais cotado é o ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM), que leva o carimbo de ex-integrante do governo Michel Temer. Outro ex-ministro de Temer, Ricardo Barros (PP), da Saúde, mandou dizer que, se for convidado, aceitará.
Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Henrique Meirelles (MDB) também não conseguiram encontrar seu par.